O debate americano

Os debates eleitorais valem o que valem: são um produto da política-espectáculo, em que os que competem pelo favor dos eleitores lutam pelo seu coração – ou melhor, pelo seu voto. Dispensam-se as considerações pedagógicas: a ideia não é discutir ideias, mas pessoas. Pode ser que na Europa as coisas estejam para mudar mas, por…

Nos Estados Unidos, o precursor desta moderna democracia de massas e médias e de mass-media, o processo é mais complexo, demorado e animado que em qualquer outro país, já que a selecção dos candidatos finais passa por diversos fases de selecção intrapartidária, sobretudo no partido que não ocupa a Casa Branca.

Desta vez, para a eleição de 2016, a concorrência é ainda maior. No Partido Democrático, apesar da vantagem de Hillary Clinton, surgem outras hipóteses, como o senador Bernie Sanders de Vermont, que se declara democrata socialista; ou Jim Webb, que fez parte da Administração Reagan; ou até talvez o próprio vice-presidente Joe Biden. Mas é entre os republicanos que se vê a maior proliferação de candidatos.

Depois de uma Administração democrata que beneficiou do bom estado da economia mas que tem vulnerabilidades, os republicanos esperam ganhar as presidenciais: dominam o Congresso com maiorias confortáveis no Senado e nos Representantes e têm também a maioria dos governadores dos estados e dos deputados nas legislaturas estaduais. A surpresa é que os candidatos fora do ‘sistema’ – isto é, os que não são políticos de carreira, os que não são nem foram congressistas, senadores, governadores – estão à frente nas sondagens.

O caso mais chocante é o do bilionário Donald Trump, que vem explorando o género politicamente incorrecto, à esquerda e à direita, no limite do suportável: racista, misógino e com planos de trasladação que nem Estaline no seu melhor se lembraria (como a expulsão de 11 milhões de latinos ‘ilegais’), é pro-choice em matéria de aborto, contra a direita religiosa republicana. No oposto, vindo de uma família monoparental, negra, pobre, religiosa, com uma ‘história americana’ perfeita, está Ben Carson, o neurocirurgião, que parece pronto a destronar Trump nas sondagens. E a única mulher, Carly Fiorino, uma ex-executiva com convicções políticas.

É bom lembrar que os candidatos ‘sistémicos’ – mais de uma dezena – partilham o mesmo terreno. E que, nesta primeira fase das primárias, só votam os militantes que, tanto nos democratas como republicanos, são sempre mais ideológicos radicais do que os eleitores finais.

Quem decide são os eleitores. Por isso, atenção a Jeb Bush e a Marco Rubio, homens com experiência política e ligados ao eleitorado ‘latino’, decisivo para o Partido Republicano, que já não se pode limitar a ser o partido dos WASP (brancos, anglo-saxões e protestantes) e só dos WASP.