Sabrinas portuguesas ajudam mulheres no Ruanda

Um negócio de sabrinas feitas à mão por costureiras e sapateiros do norte de Portugal está a ser um sucesso em todo o mundo e parte da receita ajuda mulheres em perigo no Ruanda, através de uma organização internacional.

É numa minúscula fábrica de calçado, junto a um campo verdejante em Nadais, perto de S. João da Madeira, no norte do distrito de Aveiro, que o amor e o 'know-how' dos sapateiros e costureiras, com anos de vida a criar o que de melhor se faz no mundo dos sapatos, concebem os milhares de sabrinas Josefinas, de modelos variados como Black Lisboa, Paris, Safari, Rainha de Copas, Moscovo, Opium ou Summer Beije, e cujos preços rondam os 100 a 200 euros.

As mil e uma noites, o ballet russo ou o lendário conto de Lewis Carol, Alice no País das Maravilhas, servem de mote para a arquiteta Filipa Júlio, 32 anos, criar no seu escritório de Vila Nova de Gaia as Josefinas, a marca portuguesa de sabrinas que entrou no mercado mundial em 2013 e já ganhou recomendações de revistas de moda consagradas como a Vogue, Elle ou Grazia, e por 'bloggers' que arrastam milhares de seguidores nas redes sociais como a 'The Blonde Salad' ou 'Man Rapeller'.

A marca portuguesa utiliza apenas a Internet para exportar os sapatos que viajam para todo o mundo, via correio normal, em originais caixas de cartão com carimbo "Josefinas Portugal".

Os EUA são o principal destino das Josefinas, país que absorve 35% da produção, mas há muitas outras mulheres que querem as sabrinas 'made in Portugal". As encomendas daquele calçado inspirado no mundo das bailarinas 'chovem' no sítio da Internet das Josefinas, com pedidos de Angola, Polónia, Espanha, Inglaterra, França, Irlanda, Bélgica, Brasil, China, Macau, Japão ou Austrália, conta a fundadora da marca.

Os testemunhos internacionais de clientes satisfeitas com o produto nacional são às dezenas, como a de Heather Chester, de São Francisco (EUA), que diz que os sapatos são "lindos". "Deviam estar muito orgulhosas do trabalho que estão a desenvolver. Todos os sapatos deviam ser e calçar assim. Maravilhoso", diz Heather.

"Quase duplicámos as vendas desde 2013 a esta parte. O volume de vendas diário é simpático e estamos a crescer", conta à Lusa a fundadora das sabrinas, que apostam em modelos clássicos, de uma só cor e com um lacinho ajustável a cada pé, assumindo que o negócio é sustentável.

O próximo sonho é abrir uma loja em Portugal que coabite com a loja virtual.

A costureira de sapatos Maria da Conceição Magalhães, os irmãos sapateiros Jorge e Carlos Magalhães e o colega de profissão António Ribeiro são alguns dos artesãos responsáveis pelo fabrico das Josefinas e todos estão orgulhosos da marca que criou a "sabrina mais cara do mundo" – que custa 3.379 euros segundo se lê na loja virtual — e que é adornada com uma joia, criada à mão, a partir de ouro e topázio azul.

As Josefinas, em homenagem à mulher e avó de nome Josefina, que acompanhava Filipa Júlio nos passeios que dava pelas ruas da cidade do Porto, também estão a ajudar a mudar a vida de mulheres em situação de risco, oriundas de países em guerra, através do "Women for Women International (WfWI)".

A WFWI é uma organização humanitária internacional que dá o apoio necessário às mulheres para abrirem um negócio próprio ou para terem formação e aprenderem uma profissão.

Filipa Júlio conta que a edição 'Women for Women' das Josefinas está a ajudar atualmente quatro mulheres da República do Ruanda — Emilienne Muragijimana, Devothe Niyigena, Providence Uwamariya e Cecile Nyirasabwa -, cujo genocídio em 1994 matou 800 mil pessoas em 100 dias.

"Por cada dez edições vendidas, ajudamos mais uma mulher", informa, explicando que na caixa de cartão há dois pares de sabrinas de pontas cravadas com cristais.

Neste momento faltam vender sete edições da Women for Women" para ajudar mais uma mulher em risco, lê-se no sítio da Internet das Josefinas.

Lusa/SOL

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