Costa e o PSD

Tenho visto muitos comentadores, aparentemente apoiantes do PSD e da coligação PàF, indignarem-se com António Costa.

Mas também reparei que o seu discurso na noite eleitoral tinha sido bem recebido por gente com uma visão mais sofisticada do que interessa ao PSD: Marques Mendes (logo da SIC, onde fez comentário das eleições, e correu portanto o risco de ser precipitado), João Miguel Tavares (na sua coluna do Público, onde declarou o seu voto na coligação PàF e fez o que pôde pela sua campanha, sabendo-se que é há muito um eleitor assumido do PSD, e já sem a menor precipitação) e o próprio Paulo Rangel (também no seu artigo habitual e nada precipitado do Público).

Pessoalmente, acho que António Costa, depois do que disse de Seguro, logo a seguir a este ganhar à coligação com algum desafogo (Costa considerou ‘poucochinho’) as europeias, deveria ser o primeiro a demitir-se. Mas também nunca disse a ninguém que era demasiado coerente (parafraseando um amigo), nem acho isso (a demasiada coerência, embora exija uma mínima) uma qualidade para ninguém. Algum do maior fanatismo vem da coerência excessiva. E tenho de confessar que fiquei admirado com o discurso de Costa na noite eleitoral, que me parece ter sido uma ‘trouvaille’ perfeita, e ter colocado a situação nacional no nível exigível (com o PS transformado em charneira da situação política, como alguém disse oportunamente). Se o PS passar ao Governo uma carta branca, como parecem pretender (note-se que digo ´parecem’) alguns seguristas (estou a pensar em Beleza e Assis), a coligação marcará eleições quando bem entender, e esmagá-lo-á desta vez a sério. Por outro lado, Costa rejeitou ‘coligações negativas’, e deu a entender que apoiará o Governo dentro das propostas ‘socialistas’. Com mais ou menos flexibilidade, isso parece agradar a todos (como se comprova pelas deliberações da Comissão Nacional do PS e as posições de figuras mais destacadas do PSD). Já que Passos não perceberá, ou não poderá convidar para ministro das Finanças o agora deputado socialista Mário Centeno, que parece um pouco mais competente do que Albuquerque, e consta ser a pessoa preferida por Cavaco para o cargo. Até porque Paulo Macedo, em tempos apoiado pelo PSD (aparentemente por ter-se distanciado na época de Vítor Gaspar) sai queimado da Saúde, e não dá garantias de ser o político negociador que a atual minoria governamental precisa no cargo.

Claro que o Presidente da República, repetindo sempre o mesmo mote (crise e consenso democrático em todo o arco governamental), embora agora mais apoiado pelos resultados eleitorais, nada faz realmente nesse sentido (como se viu ao receber extemporaneamente Passos, ignorando o PS).