Recorrer a psicólogos especialistas em aconselhamento de casais e famílias é uma forma de não deitar tudo a perder quando começam a surgir problemas na relação a dois. Quando já não conseguem resolver sozinhos os seus conflitos, recorrer a uma terapia pode ser muito eficaz. O melhor é não deixar esta solução para o fim de linha quando já estão à beira da separação, pois num contexto de crise muito grave o sucesso da terapia é menos provável. Seis a 12 sessões podem fazer a diferença na vida de ambos, garante a terapeuta britânica Tracey Cox.
Quando recorrer a um terapeuta?
Pode recorrer a um psicólogo sempre que precise de uma pessoa objectiva e atenta para ouvir os seus problemas e dar-lhe uma perspectiva esclarecedora e profissional. Mas estes são os principais sinais de que a terapia deve ser dirigida aos dois membros do casal:
– Discutem mais do que o habitual e os motivos de conflito são os mesmos vezes sem conta.
– Sente-se frustrado, irritável e mal-humorado sem razão aparente.
– Sente que o seu parceiro (a) não o entende ou ouve.
– Sente-se tentado a ter um caso extraconjugal ou um dos dois já tem um caso.
– Passaram por um significante evento de vida que os desestabilizou enquanto casal: desemprego, nascimento de um filho, saída de um filho de casa, morte de um familiar, entre outros.
– Passam cada vez menos tempo juntos e começam a criar desculpas para não estarem juntos.
– Não têm sexo com regularidade
Quanto mais cedo procurarem ajuda, maior a probabilidade de sucesso. Para que a terapia ajude, ambos devem trabalhar arduamente para salvar a relação. É difícil mudar hábitos enraizados e não regredir, sendo necessário ter em conta que a relação não se muda na sessão semanal de terapia, mas sim no trabalho de casa. As terapias podem durar em média seis a 12 sessões (modelo sistémico) ou um a dois anos (corrente psicanalítica).
Quando não resulta?
Se o terapeuta perceber que um dos membros do casal é totalmente resistente à terapia, isso invalida todo o tratamento, que deverá ser interrompido. Mas a psicóloga Maria de Lurdes Leal alerta que muitas mulheres têm uma ideia “quase fossilizada” de que os homens não vão aderir. “E a maioria das vezes isso não acontece”.
A terapia não é tão eficaz quando os casais estão no meio de uma grande crise – que é, aliás, quando a maioria recorre aos psicólogos. Se um dos membros do casal se apaixonou e está determinado em separar-se, o prognóstico não é bom. Apesar de tudo, o apoio profissional pode ajudar o outro a ultrapassar a separação e a ter armas para ser mais bem-sucedido numa próxima relação. Há que sublinhar: o terapeuta não é um mágico que resolve os seus problemas. O mais importante é que quem recorra a ajuda profissional queira verdadeiramente mudar e trabalhe arduamente para que o que aprendeu na terapia funcione na sua vida quotidiana.
O que acontece numa sessão de terapia?
A corrente mais antiga e mais utilizada em Portugal é o modelo sistémico cujo ênfase está na comunicação. Por norma, os casais fazem entre seis a 12 sessões, sendo que a primeira serve para falarem dos seus problemas e o psicólogo avaliar a personalidade de ambos e como interagem entre si. Depois disso, é trabalhada a comunicação na relação: como falar um com o outro, como saber ouvir e como garantir que o que dizem corresponde efectivamente ao que querem dizer.
Uma outra corrente mais recente em Portugal é a psicanalítica. Maria de Lurdes Leal, da Associação Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica de Casal e Família (POIESIS), explica ao SOL que este modelo de terapia costuma durar entre um a dois anos e envolve todos os membros da família, pais e filhos.
Como sugerir ao seu parceiro (a) que devem marcar uma consulta?
Com muito cuidado, alerta Tracey Cox. Dizer “tens de ter tratamento porque não estamos nada bem” não o vai levar longe. Por outro lado. “querido, eu gosto muito de ti mas acho que precisamos de aprender algumas ferramentas para melhorar a nossa relação” pode ter melhores resultados. Se o seu parceiro (a) for mais nervoso ou não for o tipo de pessoa que aceda a um pedido destes pode dizer que vai primeiro sozinho (a) para ver como funciona. Se se recusar terminantemente a considerar a ideia, esse é um sinal de que talvez a relação não funcione mesmo: as pessoas devem estar abertas a resolver os problemas e a mudar.