Lucas Pires: quando a Direita era ambiciosa

Faz hoje 30 anos (dia 8 de Outubro de 1985) que o precocemente desaparecido Francisco Lucas Pires (1944-98) se demitiu de uma curta liderança do CDS (iniciada em 1983), por ter conseguido ‘apenas’ cerca de 10% dos votos (uns 578 mil) e 22 deputados – o que considerou uma derrota estrondosa. Já não se pensa…

Mas Lucas Pires, ex-ministro da Cultura da AD de Sá Carneiro, considerado na época a maior promessa da Direita (e muito respeitado também pela Esquerda e pelo Centro), tinha ambições que o contrariavam. Lembro-me de ele dizer que conseguia mais facilmente os votos de uma esquerda de que não fazia parte, do que da direita em que se considerava integrado. E isso contrariava-o. Como o contrariou reparar que Cavaco Silva, a partir de 1985 e por uma década, ‘secou’ todo o espaço à direita do PSD – afinal com uma política muito centrista, ou mesmo de centro-esquerda (quem o vir agora em Belém não acreditará, mas foi verdade na altura).

Claro que o CDS sempre serviu como partido mais pequeno de governo, junto do PS e do PSD. E isso começou com Freitas do Amaral (muito criticado então por Pires). Mas hoje parece ser o único objetivo de Portas, a pessoa mais radiante e sorridente (talvez mesmo saltitante) com os resultados das eleições de domingo passado.

Se ‘lá no assento etéreo a que subiu’, Lucas Pires reparar ‘na memória do CDS que se consente’, ficará certamente banzado. Ele, pelo menos, saberia conter o riso nestas situações (como quando Portas ficou radiante por o caso dos submarinos ser arquivado em Portugal, depois das condenações na Alemanha, em vez de preferir aqui uma sentença que o ilibasse – seria impossível?).