Pescadores consideram ‘indigno’ serem culpados por não usarem coletes

O presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar (APMSHM), José Festas, considerou “uma indignidade” culpar os pescadores que morreram à entrada da barra da Figueira da Foz, na terça-feira, por alegadamente não estarem a usar coletes salva-vidas.

José Festas falou numa conferência de imprensa realizada hoje para "esclarecer alguns pontos referidos pela autoridade marítima", defendendo: "os coletes salva-vidas em barcos costeiros não são obrigatórios. Não há nada que o diga. Nas embarcações de pesca local é, nas costeiras não".

"Este acidente deu-se, as pessoas morreram, não podem ser culpadas ou não pode tentar culpá-las por não ter coletes quando não são obrigatórios", acrescentou o presidente da APMSHM, falando ainda das condições da barra da Figueira da Foz, apontando-as como "um problema" que é idêntico ao de outras do Norte do país.

"Temos um problema que não é da Figueira da Foz, o das barras. É da Figueira da Foz, de Aveiro, de Vila do Conde, da Póvoa de Varzim, de Esposende, de Viana do Castelo e de Vila Praia de Âncora. O acidente na Figueira da Foz foi na entrada da barra, que estava aberta, mas não está em condições para barcos de pesca. As barras precisam de ser dragadas e em tempo oportuno", alertou José Festas.

"Os portos precisam de uma manutenção anual. É por isso que temos acidentes, e não por falta de colete ou falta de responsabilidade do mestre. O mestre tem condições para entrar numa barra desde que lhe seja dada autorização", completou.

O mestre chamou ainda a atenção para a falta de homens no Instituto de Socorros a Náufragos e para a necessidade de haver uma equipa de salvamento 24 horas por dia.

António Lé, presidente da Cooperativa de Produtores de Peixe do Centro Litoral, apelou a que sejam feitos inquéritos para que se apurem as falhas nesta operação de socorro e que "nunca mais faltem ao respeito para com aqueles que fazem do mar a sua vida".

"Eu estava lá cinco minutos após o naufrágio. Uma hora e meia depois não houve qualquer embarcação de socorro no porto da Figueira da Foz e isto tem de ser dito. O que disseram não corresponde à verdade, não houve prontidão dos meios. Podia ter-se salvado uma vida e deixou-se morrer uma pessoa", sublinhou o dirigente.

António Lé reclama que sejam criadas "condições de segurança no porto", acrescentado: "a pesca é um motor da economia e queremos continuar a trabalhar, não queremos viver de subsídios".

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Já José Castro, vice-presidente da APARA (Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro) e membro da direção da APMSHM, realçou: "não é só fechar uma barra e dizer que o pescador tem de ter o colete para ser seguro. A segurança faz-se desde que estão na água. O colete tanto nos dá segurança como nos tira a vida, no caso de ficarmos presos no barco".

José Castro questionou ainda: "porque que se gastaram tantos milhões a arranjar os portos, para depois ter as barras fechadas? A barra não tem condições de navegabilidade e tem que haver quem desassoreie no tempo certo para, com o mau tempo, os pescadores terem a segurança máxima de entrada e saída, porque havendo um acidente tanto faz terem colete vestido ou não".

O arrastão "Olívia Ribau" naufragou na terça-feira ao final da tarde à entrada do porto da Figueira da Foz. Estavam a bordo sete homens, dos quais dois foram salvos, três morreram e dois continuam desaparecidos.

Lusa/SOL