Tony Bennett, o treinador que cresceu com um saco de golfe sempre por perto

O pai, Howard, era profissional de ensino, e ele nunca o conheceu a fazer outra coisa. “Tornou-se profissional em 1961, e eu nasci um ano antes, por isso nunca o vi fazer outra coisa”, conta Tony Bennett, recordando que apesar do pai nunca ter forçado o ‘golfe’, os tacos lá em casa iam ‘crescendo’ como…

“O saco tinha sempre o tamanho certo para mim, era fantástico”, diz, olhando irrequieto em volta, no restaurante do clubehouse. Sabe, diz baixinho, não gosto muito de gabinetes, gosta de estar no meio da ação.

É verdade. Aos 54 anos, Tony Bennett, diretor de Educação da PGA Europa, tem um currículo cheio em termos de golfe, e continua bem ativo nesta e em outras áreas. Foi selecionador nacional de Portugal, primeiro de sub-16, e mais tarde da equipa principal. Foi profissional de clubes na Irlanda, e antes jogador durante seis anos. Atualmente é presidente – não se sente muito confortável com esse título – da European Disabled Golf Association (EDGA), e é consultor de golfe em vários países, principalmente na America Latina.

Viaja muito, mas ainda encontra tempo para o windsurf e para o cicloturismo. Só jogar golfe – “infelizmente” – não tem sido tanto como gostava. “Não jogo tanto como queria, mas quando jogo ainda consigo bons resultados”, garante Bennett, que começou a jogar aos 9 anos por, claro está, influência do pai.

O sonho foi ser profissional. Jogou durante seis anos. Na Europa, na África do Sul. Eram tempos diferentes e fantásticos. “Chegávamos aos campos no início da semana para jogar as qualificações, e se conseguíssemos jogávamos o torneio”, explica.

Desses anos, Bennett guarda a “camaradagem” e as amizades. “Eram poucos os jogadores que andavam de avião, portanto íamos quatro dentro de um carro a atravessar a Europa para jogar”.

Nunca foi um jogador de topo. Ganhava o suficiente para pagar as despesas. “Era aquele tipo de jogador que passa muitos cuts, mas depois termina longe dos primeiros lugares”, explica.

O sonho acabou quando conheceu Sue, a atual mulher. “Tinha 23 anos e soube logo que ia casar com ela. “Tenho a certeza que ela não sabia, mas eu sim”, diz, sorrindo. Foi um momento decisivo. Estava prestes a viajar para a África do Sul para mais uma temporada, o que significava ficar três meses longe de casa. Não foi.

“Decidi deixar de jogar e dedicar-me ao ensino”. Começou a treinar no Leyland Golf Club, rumando depois para o Newark Golf Club, já como ‘head professional’. Foi nessa altura que surgiu o convite da Federação Portuguesa de Golfe (FPG) para treinar a equipa de sub-16. Aceitou de bom grande, mas manteve-se a viver no Reino Unido.

Só mais tarde, em 1997, é que novo convite da FPG o fez mudar-se para Portugal, com a mulher e o filho. Dois anos antes tinha recusado o convite, por achar que não era a altura certa, mas perante a insistência acabou por aceder. “Já estava a treinar grandes jogadores jovens e penso que era o passo seguinte para mim. Felizmente Portugal deu-me essa oportunidade, e foi fantástico”.

“Tivemos alguns bons resultados, mas mais importante foi que conseguimos estabelecer um sistema que tem sido seguido, mesmo depois de eu ter saído”, diz satisfeito. É claro – acrescenta – que esse sistema teme evoluído, mas as bases ficaram.

“Nomes como Ricardo Santos, Tiago Cruz ou Pedro Figueiredo, são um produto desse sistema”, diz o homem que garante ter olhado sempre mais para o ser humano do que para o golfista.

“Estes rapazes são bons indivíduos, boas pessoas. O que temos que fazer é trabalhar para que eles conseguiam atingir o melhor das capacidades. Não conseguimos isso, deitando fora tudo o que eles já sabiam. Temos que trabalhar com o que eles já sabem, com as caraterísticas individuais, dando-lhes confiança e apontando as direções”.

Bennett sabe, e sabia, que nem todos chegaram a grandes jogadores, mas também sabe, e sabia, que todos vão continuar a ser boas pessoas.

Sabe, diz, é impossível separar a vida do golfe, por isso temos que dar boas bases aos jogadores para que nem a vida afete o jogo, nem o jogo afete a vida.

Tem sido assim com ele. Sempre acompanhado pela mulher, divide a vida pelo trabalho na PGA Europe e o voluntariado na EDGA. “Conheci a associação por acaso, e interessei-me logo pelo trabalho que estão a desenvolver, e foi por isso que acedi ser presidente”, diz este inglês muito português.

“Moro perto do aeroporto de Faro, o que é importante porque viajo muito, e não imagino outro local para viver, senão aqui”.

Artigo escrito por Sara Moura ao abrigo da parceria entre a Revista GOLFE Portugal & Islands com o Jornal SOL.