Na ponta da agulha

Com quantas frases se escreve, ou se borda, uma crise? ‘À espera que chova’ é o nome do novo projeto da Guerrilha da Agulha, aberto ao público até dia 31 de Outubro, na Casa da Esquina, em Coimbra.

O desafio foi lançado e não tardou a ganhar adeptos. Na primeira semana começaram a chover ideias e, num instante, as pequenas gotas deste projeto tornaram-se numa inundação de frases que podem soar familiares a qualquer um. O novo projeto da ‘Guerrilha da Agulha’ herdou um nome que fica à responsabilidade de Assunção Cristas, atual ministra da Agricultura, que em 2012, ao falar sobre o estado de seca do país, disse ser «uma pessoa de fé» e alguém que esperará «sempre que chova». Deste modo, o coletivo não ficou indiferente ao argumento proferido pela ministra e decidiu, então, lançar o projeto ‘À espera que chova’. «Estamos sempre à espera de alguma coisa. Vivemos cada vez mais num impasse e não vemos um grande futuro. Esperar que chova é esperar que algo aconteça, quase como o mito do Dom Sebastião», refere Filipa Alves, uma das responsáveis pela criação.

Bordar as frases que mais marcaram ou indignaram as pessoas, no panorama político português, é aquilo que pretendem. «Lançámos o desafio através de um grupo na internet. O intuito era recolher e bordar frases que, de alguma forma, deixaram as pessoas bem ou mal dispostas, ou que as tenham simplesmente marcado», refere a responsável. Até ao momento em que a Tabu falou com as responsáveis do projeto, Passos Coelho e Cavaco Silva eram «praticamente as estrelas dos bordados». «Temos as mais variadas frases, desde a área financeira até à sociedade civil. Temos também frases de todos os partidos», acrescenta Sandra Jorge.

Numa época pré-eleitoral, este projeto não pretende «definir o voto de ninguém», sendo que consiste apenas na «reflexão e em dar a conhecer aquilo que se foi passando até hoje», declara Filipa Alves. A exposição conta, para já, com cerca de 30 trabalhos, mas a organização espera que vá crescendo ao longo do tempo e à medida que os políticos vão fazendo das suas, sendo que Filipa considera o material com que estão a trabalhar «terreno muito fértil». «O objetivo é ir crescendo. Faz todo o sentido que cresça com as preocupações das pessoas, e temos já convites para levar a exposição a alguns sítios», revela Sandra Jorge.

A ‘Guerrilha da Agulha’ é um coletivo sediado na Casa da Esquina, em Coimbra, e tem como principal objetivo transpor do espaço doméstico, para o espaço artístico as artes manuais. O seu palco de intervenção é a rua, a agulha é a sua arma de expressão e o espaço público torna as suas ações numa guerrilha. «Quando fazemos intervenções estamos sempre a chamar a atenção para alguma coisa, há sempre uma intenção, uma mensagem. Isso torna o nosso trabalho uma verdadeira guerrilha», refere Filipa Alves. Apesar de esta exposição estar aberta ao público dentro das quatro paredes, a capacidade interventiva no espaço público é a grande característica e preocupação do grupo, que se move pelas preocupações quotidianas.

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