O Sínodo de todos os lóbis e conspirações

Conspiração, lóbi, pressão mediática. São estas as palavras que estão a marcar o Sínodo dos Bispos sobre a Família, que começou no domingo em Roma, e que provam que o ambiente que se vive dentro da reunião é de alta tensão.

O primeiro sinal de que as facas estão afiadas dentro do Sínodo veio do próprio Papa que, ao terceiro dia de trabalhos, falou aos bispos pedindo-lhes para não entrarem em conspirações. Lembrando que o Sínodo deve procurar o discernimento sobre o que Deus pede à Igreja, Francisco pediu aos bispos para não cederem a uma “hermenêutica conspirativa”, atitude que considerou sociologicamente fraca e de pouca ajuda espiritual.

O comentário do Papa foi tornado público através de um post no Twitter colocado por Antonio Spadaro, jesuíta que participa também na reunião e que mostrou, com isso, a diferença entre a comunicação que tem sido feita pelo gabinete de imprensa do Vaticano, e aquilo que se passa realmente na sala.

Já na sala de imprensa, onde diariamente tem sido feito uma conferência para os jornalistas, no dia seguinte, o arcebispo de Filadélfia confirmou que Francisco tinha alertado os participantes do Sínodo para a criação de um clima de “conspiração”. “O Santo Padre disse que devíamos deixar de pensar uns nos outros como estando a conspirar, mas que devíamos trabalhar pela unidade entre os bispos. É a sua tarefa promover a unidade”, disse Charles Chaput, confirmando que há lóbis dentro do Sínodo. Contudo, acrescentou que isso é uma realidade comum: “Ao mesmo tempo nunca estive num encontro da Igreja em que não há grupos que se juntam para fazer lobbying num sentido ou noutro. Isso está a acontecer, asseguro-vos, é o que acontece quando as pessoas se juntam, e não nos devemos surpreender nem escandalizar por isso, desde que seja feito de forma transparente e honesta”.

O discurso do cardeal patriarca, feito na quinta-feira, à Rádio Vaticano, foi no mesmo sentido. “Estamos aqui para fazer o nosso Sínodo e não o dos média”, disse Manuel Clemente, um dos três portugueses que participa na reunião. O patriarca de Lisboa tem sublinhado que o tema do acesso dos divorciados recasados à comunhão é o mais polémico e fraturante entre os bispos, mas outros temas quentes estão em cima da mesa como o papel dos homossexuais na Igreja Católica. Contudo, o cardeal português considera que não deve ser o mundo a impor ao Sínodo a sua agenda.

Progressistas e conservadores digladiam-se na praça pública

Aliás, tem sido em torno destes dois temas que se têm tomado as posições mais extremas no último ano, com as alas mais conservadoras e progressistas dentro da Igreja a esgrimirem argumentos em praça pública. O facto de ter aberto a discussão a temas e níveis nunca vistos, tem colocado o Papa também no seio da discórdia. Já há até quem conteste se o Papa tem autoridade para fazer alterações à doutrina da Igreja, como são classificadas algumas propostas na área da família que estão em discussão.

Muitas críticas suscitadas em torno de Francisco prendem-se com a aproximação que fez aos homossexuais e às pessoas que vivem situações irregulares, como os recasados.

rita.carvalho@sol.pt