“Em 1992, quando ninguém apostava na baixa, já tínhamos lojas na zona. Há 15 anos, quando também ninguém tinha hotéis ali, nós já tínhamos comprado um edifício para fazer um hotel na Rua dos Bacalhoeiros, ao lado da Casa dos Bicos. Acabámos por vender a outro grupo hoteleiro que depois não o fez”, recorda, em entrevista ao SOL, declarando que se apaixonou pela cidade quando viveu em Alfama e na Graça. “Querer fazer um hotel em Lisboa não é de agora. É uma história antiga”.
A crise motivou-o a lançar-se num novo capítulo. Com negócios também na construção civil, “devido às dificuldades no setor imobiliário houve necessidade de divergir, e por isso divergimos para a hotelaria”. Foi uma forma de aplicar o conhecimento e a capacidade instalada na construção e de rentabilizar ativos imobiliários que já estavam na mão do grupo. Uma boa aliança entre investimento e reabilitação urbana, explica o também administrador da My Story.
A baixa foi a escolha óbvia. “É a paixão do grupo”. Em fevereiro de 2014, escrevia-se a primeira página, com a inauguração do My Story Ouro, na rua com o mesmo nome.
Já este ano, em março, abria o My Story Rossio, unidade instalada num edifício onde o grupo tem uma loja Seaside e que esperou “dez anos de travessia no deserto [do licenciamento] até chegar a bom porto”. Aplicou cerca de quatro milhões para ter um hotel com 46 quartos.
Dar vida a Lisboa
Virados sobretudo para o turismo de lazer e pequenas estadias (short breaks), os hotéis My Story recebem sobretudo franceses, brasileiros, alemães e árabes. Têm tido taxas de ocupação acima dos 90% e preços médios superiores a 90 euros por noite.
“Os nossos hotéis tem uma quadrilogia que inclui localização prime, qualidade na aplicação de materiais e execução, conforto e atendimento personalizado”, indica Acácio Teixeira, que quer expandir esta nova área de negócio, até porque acredita que o turismo na cidade vai continuar a subir.
A sair do papel está já a reabilitação do hotel Lisboa Tejo, comprado em 2012, e a Pensão Tomar, também entretanto adquirida. O objetivo é juntar os dois edifícios próximos da Praça da Figueira e transformá-los no My Story Tejo, com 140 quartos e abertura prevista para 2016.
Numa segunda fase, e já a pensar em grupo maiores e no turismo de negócios, serão integrados outros dois edifícios para adicionar mais 100 quartos, num investimento total que rondará 25 milhões de euros.
Recorrendo a capitais próprios e a financiamento bancário, numa proporção de 50% cada, há ainda planos para outro hotel na Praça da Figueira. No imóvel onde há uma loja Seaside – que será mantida – surgirão 90 quartos e restaurante.
E para a Rua Augusta, está prevista outra unidade de 55 quartos. “Queremos começar a obra este ano nos dois, com um investimento por quarto entre 100 mil e 110 mil euros”.
Quando concretizar estes projetos, a My Story Hotels terá cinco hotéis na baixa, onde Acácio Teixeira não teme o excesso de oferta. E discorda que a crescente existência de hotelaria possa descaracterizar a zona histórica. “O turismo é a única saída para a Baixa Pombalina se manter viva. A única possibilidade para os edifícios de bancos e de seguradoras que estavam vazios há dez anos é ocupá-los com turistas”, defende.
“O movimento com os tuk-tuks, a juventude que visita a cidade, a vida noturna do Bairro Alto ao Cais Sodré, tudo isso deu vida a Lisboa”, analisa. E acrescenta a criação de emprego: cada hotel My Story gera 12 postos de trabalho.
Rafeiro: o nome de um vinho
Ainda assim, Acácio Teixeira não descarta a hipótese de levar a marca para outras regiões do país. Por isso, está a estudar oportunidades no centro do Porto e no Algarve, junto à praia. “Também não excluímos ter uma unidade mais competitiva no preço, de maior dimensão, para outro tipo de cliente e com outra marca”, avança.
Por agora, está também a dar os primeiros passos no enoturismo, depois de comprar a Herdade Monte Branco, em Vendas Novas. Além de construir alojamento na propriedade, haverá também uma adega e a intenção é disponibilizar aos clientes dos hotéis My Story em Lisboa circuitos com a temática do vinho. Por agora, já arrancou a produção de vinho. Nome: Rafeiro. Será vendido em hotéis e restaurantes.
Ao mesmo tempo, a rede My Story quer tirar partido da notoriedade da marca Seaside, cujo cartão de cliente tem 400 mil aderentes. Embora goste de manter os negócios separados, Acácio Teixeira não esconde que ambos acabam por cruzar-se, até porque os hotéis estão próximos das lojas. Em breve, a chave dos quartos dos My Story terá publicidade à Seaside.