Se o PS entrar no desvario radical de se aliar à esquerda isolacionista e anti União Europeia do BE e do PCP – fazendo cair o novo Governo de Passos Coelho, quer dando o seu voto a uma moção de rejeição do programa de Governo apresentada por comunistas e bloquistas, quer reprovando o Orçamento para 2016 -, Costa estará a criar as condições para se repetir o desastre que a esquerda em conjunto (PCP, PRD e PS) desencadeou em abril de 1987, ao derrubar o Governo minoritário de Cavaco Silva com uma moção de censura. Mário Soares, em Belém na altura, não caucionou a batota que seria um Governo das esquerdas minoritárias, convocou eleições e os portugueses acabaram a dar duas maiorias absolutas consecutivas a Cavaco Silva.
Se, por outro lado, António Costa sofrer uma nova e pesada derrota eleitoral nas presidenciais de janeiro, como parece provável, seja com Sampaio da Nóvoa seja com Maria de Belém, então estarão criadas as condições para se repetir o cenário que levou Fernando Nogueira a abandonar a liderança do PSD em 1996. Nogueira perdeu as legislativas em outubro, as presidenciais em janeiro e demitiu-se logo de seguida. No Congresso do PS, irá Costa resistir a igual dupla derrota?
António Costa terá passado dias angustiantes nas últimas semanas de campanha ao aperceber-se, face à implacável constância das sondagens, da derrota inevitável que o esperava a 4 de outubro. E terá sentido um clic de alívio interior no momento em que decidiu, no seu íntimo, que não iria demitir-se apesar do resultado eleitoral, pois não haveria alternativas de peso a quererem avançar contra si no PS nesta conjuntura desfavorável.
Mas. para se manter, Costa terá que fazer o contorcionismo de deixar passar o Governo e aprovar, em simultâneo, algumas medidas fraturantes de esquerda, como a lei do aborto ou a adoção gay. Não será fácil esse equilibrismo político. E se não são muito elevadas as hipóteses de o Governo chegar ao fim da legislatura, menores ainda serão as probabilidades de Costa permanecer os próximos quatro anos na liderança do PS.
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