“A comunidade cristã não pode resumir-se a uma agência de serviços”, disse o cardeal português, repetindo uma expressão pelo próprio Papa no instrumentum laboris, o documento que serve de base de trabalho para esta segunda assembleia do Sínodo. Manuel Clemente lembra que o crescimento urbano fez com que as populações se organizassem de outra maneira, acabando com as “vizinhanças estáveis onde as gerações se sucediam e reconheciam”, mas considera que isso não pode levar a Igreja a assumir os padrões da sociedade de consumo, oferecendo apenas às populações um conjunto de serviços.
“São recorrentes as queixas de quem não é verdadeiramente acolhido nem atendido, mesmo quando contacta as instituições da Igreja. Nem sempre podemos corresponder ao que nos é pedido, mas nunca podemos desprezar quem nos pede alguma coisa”, afirmou Manuel Clemente, defendendo, pelo contrário, uma comunidade assente em “relações pessoais autênticas”.
Para alterar esta forma de estar presente no mundo, a Igreja Católica tem de proceder à renovação das suas comunidades, defendeu o patriarca de Lisboa na assembleia sinodal. Esta renovação deve ser feita com um “critério familiar”, transformando estas comunidades em “famílias de famílias”. Manuel Clemente reconhece que isso já vai acontecendo, em algumas paróquias. Por exemplo, diz:”Quando a preparação para o matrimónio começa cedo, na família e na catequese da infância e da adolescência, com o envolvimento direto dos pais, bem como nos grupos juvenis orientados por casais jovens; quando as famílias são espiritualmente acompanhadas na comunidade e em grupos de casais; quando os serviços comunitários de cada um têm em conta os seus laços familiares; quando famílias inteiras praticam voluntariado ou missões temporárias”.