Foi um dos melhores amadores mundiais da sua geração. O ponto alto foi a conquista do British Amateurs em 2008, em sub-18, num dramático ‘play-off’, mas Pedro Figueiredo, ou simplesmente ‘Figgy’, tem mais, muito mais para contar.
Venceu, nesse mesmo ano, o Internacional de Portugal. Conquistou o Internacional da Irlanda. Fez parte de três selecções europeias na Junior Ryder Cup e no L’Église Tophy . Ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal. Campeão nacional (por duas vezes). Vencedor da Taça da Federação. Atleta do Ano. Número 1 do Ranking Nacional. Uma Taça Kendall, aos 14 anos. Ufa… (pausa para respirar) E continua. Três títulos no campeonato universitário norte-americano, ao serviço da UCLA. Uma presença na Palmer Cup. Incontáveis top-10 em torneios internacionais.
Aos 13 anos, tornou-se no segundo jogador mais jovem de sempre a alinhar numa prova do European Tour, alinhando no Open de Portugal. Em 2008 – um verdadeiro ano de glória para Figueiredo – tornou-se o segundo golfista mais jovem de sempre a passar o cut de uma prova do European Tour. Melhor do que ele, só um senhor chamado Sérgio Garcia (conhecem?) que tinha 15 anos e 46 dias, quando completou tal feito.
Foi no Madeira Islands Open de 2008, que ‘Figgy’ escreveu o nome no livro de recordes do Tour, tornando-se no melhor amador de sempre numa prova do Tour, ao terminar em 23.ª com três abaixo do par.
Um ano antes, o génio do português tinha chamado a atenção de Severiano Ballesteros que, impressionado, convidou-o a participar no Open de Espanha.
Mas ‘Figgy’ nunca se deslumbrou. Sabe para onde quer ir – “para o European Tour, claro” -, sabe que é difícil, mas sabe o que tem de fazer para lá chegar.
“Não estou obcecado. Prefiro focar-me no que tenho que fazer para chegar lá. O que tenho que melhorar, e como posso melhorar”, explica o golfista de 24 anos, profissional há três.
“Sei que se fizer tudo o que tenho que fazer, vou lá chegar naturalmente”, acrescenta, sublinhando que tem valor para jogar entre os melhores da Europa. “Se jogar o que sei, em breve vou conseguir”, afirma, confiante.
Preparou-se para isso. Aproveitando o longo interregno do Challenge Tour, Figueiredo fez uma análise profunda à época anterior e trabalhou para melhorar todos os aspectos do jogo. “Dei muita atenção à componente física, trabalhando em conjunto com o meu preparador Pedro Correia.”
O resultado foi menos massa gorda, e mais força. “Sinto-me muito melhor. Estou a bater mais comprido e mais consistente, o que em vai ajudar esta época”, acredita ‘Figgy’, lembrando que a componente física é cada vez mais importante no golfe. Basta olhar para o top-10 mundial. “Mais de 90% são atletas”, observa, dizendo que durante a temporada é mais difícil dedicar tempo a esse aspecto. “Com torneios todas as semanas, viagens pela Europa, fica complicado”, diz, lembrando que em Portugal os golfistas ainda desvalorizam essa componente do jogo.
Valorizam outras. ‘Figgy’ olha à volta e encontra grandes valores no país. À cabeça está Ricardo Melo Gouveia, que tem estado “brilhante” nesta fase de transição de amador para profissional. Mas existem outros, até mesmo amadores como Vítor Lopes que dão garantias de um bom futuro para o golfe português.
O difícil mesmo, diz Figueiredo, é começar. A transição para profissional nem sempre é fácil. “Para mim foi difícil, e não consigo explicar porquê. Afinal, é o mesmo jogo”, confessa. Mas, a verdade, é que muito mudou. As rotinas são diferentes, a pressão de obter resultados… muita coisa.
“A PGA Portugal Team veio dar uma grande ajuda nesta fase, e terá um papel fundamental para que está a passar por essa transição”, elogia o golfista que em oito torneios do Challenge esta época, passou o cut em seis.
Mas essa regularidade não tem sido suficiente para subir no ranking. O melhor que conseguiu até junho foi um 43.º lugar no Made in Denmark Challenge, ocupando o 79.º posto no ranking. Longe ainda dos top-15 que garante um cartão para o European Tour de 2016.
“O meu objectivo não passa apenas por passar ‘cuts’, por isso sinto que tenho de fazer melhor do que fiz até agora”, admite, acrescentando que o problema tem sido o fim-de-semana. “Não tenho estado à altura das voltas finais, e esse é um aspecto que tenho de melhorar.”
Esta época tem sido nos greens que Figueiredo enfrenta mais dificuldades, mas essa componente tem vindo a melhorar. “Penso que isso se deveu sobretudo a uma mudança de mentalidade da minha parte em relação ao ‘putting’. Estava a stressar muito por não estar a ‘patar’ bem ultimamente, e o que fiz foi deixar de dar importância a isso, e concentrar-me apenas naquilo que tenho de fazer para ‘patar’ bem”, explica, dizendo que uma mudança no ‘grip’ no ‘putter’ também ajudou a obter melhores resultados.
Juntamente com o treinador, o galês David Lewellyn, ‘Figgy’ tem trabalhado também no ‘downswing'. “Tem tem estado muito dentro do plano, o que faz com que as mãos estejam muito activas no momento do impacto, e consequentemente falhar a bola à esquerda”, explica. Não é, acrescenta, um aspecto fácil de corrigir, mas tem melhorado.
Por tudo isto, Figueiredo está confiante num bom ano. “Estou melhor preparado do que no ano passado, e mais adaptado à exigências do golfe profissional. Sei que os resultados vão aparecer.”
Artigo escrito por Márcio Berenguer ao abrigo da parceria entre a Revista GOLFE Portugal & Islands com o Jornal SOL.