A estratégia mais ativa e agressiva de Moscovo na Síria tem razões geopolíticas e militares que se integram numa política de restauração do poder nacional e do prestígio russos: a Síria era um velho aliado da União Soviética que a nova Rússia faz questão de manter até porque na Síria está a sua única e última base naval no Mediterrâneo. A base fica em Tartus, perto de Latáquia, e tinha condições para navios de guerra de médio porte; mas, a partir de 2008, foram melhoradas as infraestruturas para receber outro tipo de navios, incluindo submarinos nucleares.
Desde o começo da guerra civil síria, entre o governo e as várias forças da oposição armada, que se repetiram com frequência as visitas dos esquadrões russos à região.
Na última edição do Sunday Times anunciava-se a intenção de Putin de enviar uma força militar muito significativa para atacar as posições do Estado Islâmico na Síria, nomeadamente a cidade de Rakka, e para preservar Aleppo nas mãos do Governo.
Em finais de setembro, a Rússia, a Síria, o Irão e o Iraque anunciaram a criação de um Centro de Coordenação Estratégico em Bagdade para a planificação das operações contra o Estado Islâmico. Nos primeiros dias de Outubro, depois de discussões entre Obama e Putin, esta aliança operacional com vista a uma possível coordenação de esforços contra o EI tinha sido confirmada.
As acusações americanas contra a intervenção russa – vindas nomeadamente do senador John McCain – têm a ver com o facto de os russos insistirem na continuação do governo de Bashar al-Assad, contra a opinião dos ocidentais e sobretudo dos americanos, e de, alegadamente, bombardearem, não só as posições do EI, mas também as de grupos apoiados pelo Ocidente e pelos sauditas, como o Exército Sírio Livre.
A decisão de avançar «rapidamente e em força» contrasta também com a lentidão de Obama e reintroduz a Rússia como um protagonista ativo na política do Médio Oriente. A aviação russa atacou nas zonas de Homs e Hama, mas os Estados Unidos protestaram, indicando que são zonas onde a importância do EI não é significativa. Segundo o secretário de Defesa, Ash Carter, a guerra contra o EI não pode alhear-se da guerra contra Assad e muito menos envolver alianças com ele.
Depois dos ataques russos a Rakka, e independentemente da questão da guerra, há claramente duas coligações envolvidas na Síria: a ‘Ocidental’, com os sauditas e os turcos, contra Assad e o EI; e a dos russos, Irão e Governo da Síria, contra o EI e todos os grupos anti-Assad.
É uma equação que pode surpreender, mas que é um sinal, não tanto de uma nova Guerra Fria, mas de uma conjuntura internacional e regional que voltou a ser governada pelas leis dos interesses dos Estados.