António Silva, conhecido como Chefe Silva, foi durante 30 anos diretor técnico da revista TeleCulinária e apresentou várias rubricas de culinária na RTP, desde 1975, ensinando gerações de portugueses a usar bem os produtos nacionais. “Ele pode ter sido, nos últimos anos, um símbolo de uma cozinha pouco sofisticada, mas era na verdade um grande chefe, que conhecia e ensinava bem as técnicas e valorizava a nossa gastronomia regional”. Algo que agora está de volta ao cardápio, com o ressurgimento de vários movimentos que apelam ao regresso das cozinhas e dos produtos mais locais.
“Um jovem chefe bem pode dizer que faz cozinha molecular, mas se não conhecer as bases não vai a lado nenhum”, sustenta António Alexandre, que foi amigo de António Silva e que lamenta que a homenagem que imaginara fazer-lhe na televisão não tivesse sido possível, graças ao seu estado de saúde debilitado, nos últimos dois anos.
António Silva morreu hoje aos 86 anos, na sua terra natal, Caldelas, no concelho de Amares. As suas origens eram humildes e ligadas à terra. Por ser inteligente, chegou a frequentar o seminário, destinado a ser padre, mas acabou por fugir. Trabalhou nas obras e como ferreiro. Mas ganhou o gosto da cozinha com a mãe. Aos 18 anos foi para Lisboa.
Chegou a cozinhou na então Lourenço Marques (hoje Maputo) e foi chefe em vários hotéis de Lisboa, incluindo o Avenida Palace e o Altis, que representavam uma gastronomia de excelência. Foi funcionário também do Instituto de Culinária Margarina Vaqueiro, o mesmo onde trabalhou outra das grandes referências da culinária televisiva portuguesa, Maria de Lourdes Modesto. Foi diretor de Produção da Eurest e fundador e presidente da Associação de Cozinheiros e Pasteleiros de Portugal. Chegou a abrir o restaurante Chefe Silva, nas avenidas novas, em Lisboa.
“Além de ser a figura que é, é também uma referência tanto para cozinheiros em casa como para profissionais”. E os seus livros e os fascículos da Teleculinária, “são um compêndio fundamental, um legado de receituário para toda a gente”, considera António Alexandre.
A cerimónia fúnebre está marcada para amanhã, às 17h30, na Igreja paroquial de Santiago de Caldelas.