A par de António Antunes, já retirado, e Luís Galego, que deixou de jogar em Portugal por divergências com a Federação, António Fernandes é um dos três portugueses entre os cerca de 1500 jogadores com estatuto de Grande Mestre em todo o mundo – o mais prestigiado atribuído pela Federação Internacional de Xadrez (FIDE). Além de conquistar o Nacional deste ano, já tinha ganho o anterior. No entanto, tem vivido nos últimos anos com a mágoa de não representar a Seleção portuguesa nas grandes competições.

O selecionador diz-lhe que está convocado, mas a Federação “boicota” a sua presença, acusa o xadrezista de 52 anos, que mantém uma guerra aberta com os dirigentes da modalidade. Em 2014, ficou de fora das Olimpíadas por não ter disputado 30 partidas num ano, como a Federação exigia. O problema, contrapõe, é que esse critério foi introduzido já com o referido ano em curso. António Fernandes entende que mudaram as regras a meio do jogo e meteu um processo em tribunal, que o obrigou a gastar “cinco mil euros”. Escreveu ao Provedor do Plano Nacional de Ética no Desporto, ao Comité Olímpico, ao Instituto do Desportoe à Secretaria de Estado do Desporto, sem sucesso.

Já este ano, apesar de garantir que “foi sempre o campeão nacional a representar Portugal no Europeu”, acabou preterido da prova. Cumpria o critério dos jogos realizados, mas no seu lugar foi o segundo classificado e outro jogador que tinha desistido no Nacional absoluto. Também ganhou o Nacional de veteranos, na categoria de +50 anos, mas nem para Europeu dos jogadores mais velhos foi inscrito. Tal como o seu pai, que aos 85 anos se sagrou campeão nacional na categoria de +65. Tinham direito a participar, mas quando contactou a Federação informaram-no no dia a seguir que o prazo havia expirado no dia anterior. Não se rendeu. Expôs a situação à FIDE e foram autorizados a jogar. “Tivemos de entrar pela porta dos fundos”, ironiza.

rui.antunes@sol.pt