Em Roma, o professor de direito canónico Saturino Gomes admite ao SOL que este sínodo, ao contrário dos anteriores, está a dar sinais claros de uma forte divisão interna. E confirma que a tese do cisma tem circulado nos jornais italianos. No entanto, considera uma ideia “exagerada pois para isso acontecer era preciso que houvesse uma divisão fraturante em relação aos dogmas da Igreja”. Por enquanto, acrescenta o juiz do Tribunal da Rota Romana, “não parece que isso esteja a acontecer”.
Para o padre Carreia das Neves, há o risco de o extremar de posições acabar mesmo numa rutura na Igreja, dada a forte oposição ao Papa em certos setores. “Há uma nova visão com Francisco, que agudizou as divisões entre os mais conservadores que estão agarrados ao direito canónico e os que querem uma Igreja mais aberta, à luz da misericórdia”, diz o teólogo, que acredita, contudo, que o Papa vai conseguir, no final do sínodo, impor uma reforma sem essa rutura.
Os padres Anselmo Borges e Feytor Pinto reconhecem estas divergências antigas mas não admitem que possam causar uma fratura. “Não acredito num cisma”, diz Anselmo Borges, para quem o Papa já está a conduzir uma reforma para responder às necessidades de muitos católicos que não praticam os ensinamentos da Igreja. “O que existe é um cisma na prática católica”.
Já os bispos portugueses esperam que até à conclusão dos trabalhos, no dia 25, o Papa encontre uma forma de conciliar as várias posições defendidas no sínodo. Nomeadamente sobre o tema mais polémico: o acesso à comunhão dos divorciados recasados.
“No final espero que haja um documento que aponte soluções concretas”, disse ao SOL Manuel Felício, bispo da Guarda, considerando que em Roma não há um clima de conspiração mas de “liberdade de expressão de opinião”. Também Ilídio Leandro, bispo de Viseu, põe de lado a hipótese de surgirem fraturas graves no interior da Igreja. “Até porque não acredito que haja mudanças doutrinais mas apenas pastorais”, avança ao SOL.
Bispos portugueses à espera de orientações concretas
O bispo que tem defendido uma posição progressista reconhece que também há visões diferentes em Portugal, mas acredita que, na sequência do documento final do sínodo, “a conferência episcopal terá facilidade em encontrar consensos”. Ilídio Leandro considera ainda que “o caminho de abertura que já se percorreu com o sínodo é irreversível. Já não poderá haver uma posição de marginalização em relação aos divorciados”.
Também é essa a opinião do bispo de Beja, para quem “a Igreja já está a mudar a prática pastoral para dar mais atenção às necessidades destes casais em situação irregular”. António Vitalino Dantas adianta que a recente decisão do Papa de dar aos bispos mais poderes e acelerar as declarações de nulidade de casamentos é prova disso mesmo.
Já os dois bispos que representam Portugal no sínodo parecem colocar-se em lados distintos quanto a uma maior abertura da Igreja aos recasados. Manuel Clemente defendeu entre os bispos nacionais uma posição m ais conservadora e Antonino Dias tem estado ao lado dos progressistas.
Na opinião do vaticanista Austen Ivereigh, nos últimos dias começou a surgir no sínodo uma alternativa às posições mais radicais: um novo caminho, uma espécie de terceira via. O especialista em assuntos do Vaticano disse ao SOL que “tem havido intervenções no sentido de devolver as questões polémicas às igrejas locais”. O jornalista inglês acredita que se esta solução constasse no documento final iria ao encontro do que pensa o Papa, um “defensor das colegialidade e flexibilidade pastoral”.
*com Catarina Guerreiro