Bruno Vieira Amaral vence Prémio José Saramago

O romance “As primeiras coisas”, de Bruno Vieira Amaral, é o vencedor do Prémio José Saramago, foi hoje anunciado na Casa dos Bicos, em Lisboa.

O galardão, instituído pela Fundação Círculo de Leitores, distingue autores com menos de 35 anos, com obra editada em Língua Portuguesa, no último biénio, e tem o valor pecuniário de 25.000 euros.

A obra, já distinguida com os prémios Fernando Namora/Estoril Sol e P.E.N./Narrativa, marca a estreia literária de Bruno Vieira Amaral.

Para Manuel Frias Martins, um dos membros do júri, este é um "livro cujo perfil documental e/ou sociológico se casa bem com a malícia contida nos comentários por que o narrador se torna observador de figuras muito especiais e de circunstâncias muito particulares de um bairro Amélia sem existência física, mas ficcionado como se existisse, de facto, graças a um forte apelo referencial à experiência social do leitor contemporâneo".

Ana Paula Tavares, que também fez parte do júri, destacou por seu turno, a "sereníssima beleza da prosa, o conseguimento do conteúdo, [e] a maturidade estética".

"Trabalho muito original assente sobre uma geografia de camadas sobrepostas que constituem o chão do 'bairro Amélia' que tão bem suporta as personagens e a memória que as sustenta. A construção do texto deixa escapar uma erudição que afasta o gratuito e a citação fácil", atesta a poetisa na sua declaração.

O júri foi presidido pela editora Guilhermina Gomes, e além da poetisa Ana Paula Tavares, fizeram também parte os escritores Nelida Piñon e António Mega Ferreira e a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río.

Por designação de Guilhermina Gomes, conforme o regulamento, integraram também o júri Manuel Frias Martins, Nazaré Gomes dos Santos e Paula Cristina Costa, a quem coube "verificar a regularidade da candidatura", realizar uma primeira leitura, um resumo do livro e "emitir um parecer sobre a obra".

Na sua declaração, António Mega Ferreira atesta: "O equilíbrio global deste notável romance, o primeiro de Bruno Vieira Amaral, resulta de uma maturidade de escrita que não se consente nenhuma facilidade, mas não foge do prosaísmo de vidas mais ou menos marginalizadas".

"Conseguir com este material e este método uma obra de ficção tão poderosa e interessante não é o menor dos méritos do autor. Pelo contrário: é aí que reside a chave do seu encanto, que é o de qualquer grande texto literário", remata Mega Ferreira.

O livro "foi escrito (e deve ser lido) sob o signo da ironia e do jogo, pois, desde os inusitados paratextos até à última página, o autor vai desafiando o leitor com inovações formais (imensas notas de rodapé, que contrariam a sua função convencional), conseguindo ainda surpreender com um belo e emocionante epílogo, de carácter elegíaco", recomenda Nazaré Gomes dos Santos.

Segundo a editora Quetzal, que publicou a obra em 2013, este "é um mosaico de personagens marginais, inesperadas, carregadas de histórias que se ligam entre si: podíamos conhecê-los a todos, não morariam muito longe de uma grande cidade".

"A Humanidade inteira arde no Bairro Amélia, um lugar perdido na margem sul do Tejo, onde a História é reconstruída por personagens que raramente aparecem na nossa literatura. Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados", prossegue a Quetzal em comunicado.

Bruno Vieira Amaral nasceu em 1978, é licenciado em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Crítico literário, tradutor, Bruno Amaral é autor do "Guia para 50 personagens da ficção portuguesa" e do blogue Circo da Lama. 

Colaborou no DN Jovem, na revista Atlântico e no jornal i, e, atualmente, colabora com a revista Ler e trabalha no grupo editorial Bertrand Círculo.

Lusa/SOL