A crise política veio juntar-se a uma má conjuntura para os países detentores de recursos energéticos, afectados pela quebra e volatilidade dos preços de venda (quando os custos de exploração são os mesmos) e pela baixa geral do valor das commodities.
Como se isto não fosse bastante, países como a China e o Brasil, dois BRICS tradicionalmente envolvidos no investimento no continente africano, atravessam momentos difíceis. A própria Europa está longe da abastança financeira e da disponibilidade política, entre o peso das dívidas públicas e privadas dos países do sul e as divisões levantadas pela crise dos refugiados.
Nada disto deixa tempo, recursos ou vontade para acudir a crises políticas endógenas, sobretudo quando não parecem ter muita racionalidade e razão – como a absurda crise da Guiné-Bissau, ditada por um capricho presidencial, mas que em dois meses pôs em causa a restauração da confiança no país e ainda não parou de incomodar.
Moçambique não pode seguir esse caminho, mas os recentes ataques (por grupos armados cuja identidade e condição continuam obscuras mas cujo à vontade e impunidade levam a suspeitar de altas cumplicidades), transmitiram ao exterior uma impressão de instabilidade e insegurança que não é encorajadora.
Os dirigentes moçambicanos – no poder e na oposição – devem ter presente que, hoje em dia, as decisões de investimento são pensadas e repensadas a vários níveis e escalões, sobretudo nos sectores energéticos, mineiros e industriais, que implicam altos capitais e um longo tempo de retorno. São decisões tomadas em círculos colegiais, escrutinadas a nível técnico, financeiro e de risco político. E o clima actual já dissuade e desencoraja, só por si, investimentos de risco em países instáveis.
Depois da enorme confusão de 6.ª feira passada – da atribulada mas curta clandestinidade pós-atentado de Afonso Dhlakama e dos incidentes com a sua segurança –, resta a esperança de que o líder da Renamo, agora na Beira, se encontre com o Presidente da República e que desse encontro saia um entendimento real e sólido. Um entendimento que não se limite à mais ou menos calorosa fotografia celebrativa do costume, mas que seja marcado pela vontade de estabelecer regras de confiança e convivência entre as forças políticas do país. Só assim pode devolver-se a confiança aos investidores e, acima de tudo, ao povo de Moçambique – que, mais uma vez, é a vítima principal de todas estas confusões.