Tomate: De veneno ao consumo de grande escala

O seu uso gastronómico é antigo, vindo dos povos pré-colombianos. Há duas teorias, que não vamos debater: segundo uns, é originário do Peru; segundo outros, do México, de onde seria trazido pelos espanhóis.

Tecnicamente é um fruto, embora muita gente ainda o considere popularmente um legume. Da sua família, fazem parte as beringelas, as pimentas e os pimentões. Os iniciais, que evoluiriam para as atuais formas comestíveis e domesticadas, eram pequenos (do tamanho do chamado tomate cereja) e verdes. De resto, saudáveis (cheios de licopeno e vitamina C, complexos A e B, fósforo, potássio, etc.), nutritivos, e pouco calóricos (14 calorias em 100 gramas).

Chegaram a Sevilha (na altura um grande entreposto internacional, que exportava imediatamente para Itália e Holanda), trazidos pelos navegadores espanhóis, no séc. XVI. Mas não foram imediatamente integrados na culinária. Tidos inicialmente como venenosos, talvez por causa das mandrágoras usadas em feitiçaria, começaram por ser cultivado na Europa apenas para ornamentação. Tiveram depois um prudente uso medicinal.

Para a má fama, contribuiu o facto de serem um dos produtos mais contaminados por agrotóxicos, devido à sua suscetibilidade a pragas. Pertence além disso à mortal família Nightshade. E as suas folhas (não os frutos) contêm alcalóides tóxicos.

Só no séc. XIX é que o tomate passou a ser consumido e cultivado em grande escala, primeiro em Itália, depois em França e Espanha, de onde terá chegado a Portugal. A popularidade tornou-se tão grande que é hoje ingrediente fundamental de todas as culinárias ocidentais.

Talvez para isso tenha contribuído uma história pitoresca, passada em 1830 em New Jersey, EUA. Um homem chamado Robert Johnson, numas escadarias públicas e perante impressionada assembleia de cidadãos à espera de assistirem a uma espécie de suicídio, deitou à boca e comeu um tomate inteiro. Mas, para espanto geral e contrariando todas as expetativas, o homem não morreu. E o tomate tornou-se popular.

O primeiro livro a incluir uma receita com tomate é italiano, do século XVII, da autoria de Antonio Latina. Mas em 1745, um autor espanhol, Juan Altamiras, inclui-lo-ia num maior número de pratos.

As espécies existentes hoje são inúmeras, desde as do grupo Santa Cruz (saladas e molhos, formato oblongo) às do Caqui (saladas e lanches, formato redondo), passando pelo Saladete (saladas, formato redondo), Italiano (molhos e saladas, formato oblongo alongado) e Cereja (aperitivos ou saladas, pequeno, redondo ou oblongo).

Portugal, com o segundo melhor índice do mundo de produção por hectare (apenas ultrapassado pela Califórnia, nos EUA), é hoje um dos maiores exportadores (o 5º mundial) de tomate enlatado. Esta indústria transformadora está hoje concentrada sobretudo no Ribatejo.