De início cheguei a pensar que se tratava apenas de fanatismo de alguns. Depois reparei que não: era uma crispação muito vincada: uns parecem não entender as expectativas de quem ficou à frente davotação, mesmo não conseguindo maioria no Parlamento (a PàF da coligação governamental); outros recusam ver a importância democrática da maioria no Parlamento (agora, de uma esquerda que se uniu, por muito que isso irrite gente). Uns falam do anti europeísmo de alguns partidos da esquerda mais radical, esquecendo que o CDS de Portas se fez apenas no anti europeísmo (que abandonou só para se coligar com Durão Barroso, e chegou a provocar o abandono do Partido por parte de dirigentes históricos e europeístas). Mesmo os que falam numa determinada tradição política diferente do resto da Europa, esquecem que essa tradição só se manteve enquanto a situação política não foi como a de agora. Era muito fácil ao PSD pretender coligar-se à direita ou à esquerda, negando a mesma possibilidade ao PS. Mas, como diria o engenheiro, é a vida!
Estou convencido de que uma parte dos eleitores do PS, como eu fui desta vez, querem que este partido inviabilize Passos de formar Governo e se manter em funções. Acho até que somos mais do que os do PS que não aceitam qualquer aliança à sua esquerda, embora admita sempre estar errado. Claro que eu, embora respeitando o voto dos que apoiaram BE e PCP, não apoio estes partidos, mas fico satisfeito de ver que finalmente estão dispostos a colaborarem num Governo. Próximas eleições, que não tardarão muito (esperemos que se realizem já com o novo Presidente, mal a Constituição o permita), clarificarão melhor as coisas. Pessoalmente, gostaria de ver afastados de vez Passos, Portas e até Costa (que será o primeiro a achar má a sua derrota, depois de se enfurecer com a vitória de Seguro nas europeias, a que chamou ‘poucochinha’).
Marcelo Rebelo de Sousa (que me parece ter condições para suceder a Cavaco, embora os outros 2 candidatos mais credíveis também se tenham pronunciado contra este) deu ontem uma lição de constitucionalismo e deveres presidenciais na Voz doOperário em Lisboa (na sua qualidade de professor catedrático Constitucional na Faculdade de Direito, e pai da Constituição, como deputado da Constituinte), que sem citar o Presidente Cavaco, parecia ir toda dirigida a ele, e contraele.
E as pessoas mais moderadas e do centro, com voto racionalmente móvel, sentem-sehostilizadas pelos 2 lados. E assistem a esta coisa peregrina, de quem não votou nem votaria de maneira nenhuma num determinado partido querer declarar com veemência ter a única verdade para a ação desse tal partido de que não gosta. Como os pró-PSD, que odiando o PS, e hostilizando-o até, lhe querem exigir apoio a um Executivo de Passos.
E afinal o Presidente Cavaco, com aquela crispação a que alguém chamou a de um elefante numa loja de porcelanas, só uniu mais o PS, e deslocou alguns comentadores (como o tal do elefante nas porcelanas) antes favoráveis à PàF, e agora mais abertos a uma alternativa de esquerda.