Já a 6 de outubro, ao encarregar Passos Coelho, líder da coligação vencedora das legislativas, de fazer diligências para formar Governo, o Presidente salientara algumas condições a cumprir pelo novo Executivo. Em particular, avisou Cavaco, «exige-se a observância das obrigações decorrentes da participação de Portugal nas organizações internacionais de defesa coletiva, como a NATO, e da adesão plena à União Europeia e à Zona Euro».
O PR ter-se-á deixado iludir pela ideia (sua ou que alguém lhe vendeu) de que impediria preventivamente, com esse aviso, qualquer Governo da esquerda radical liderado por um António Costa em desespero de sobrevivência política. Ingénuo engano. Não só a NATO e a Zona Euro eram o lado para o qual o PCP e o BE dormiam melhor (convivem bem com isso enquanto for necessário, o que lhes interessa é o poder do Estado e a despesa pública) como Costa estava mesmo disposto a tudo para sobreviver, até a vender a alma ao diabo (ou à esquerda antieuropeísta).
Agora, Cavaco Silva vê-se na iminência de ter que indigitar António Costa logo que este faça cair o Governo de Passos Coelho no Parlamento. E arrisca-se a deixar Belém, resignado, com um Governo da esquerda radical no poder. Para lá da dramatização que ontem fez, tem poucas hipóteses de o evitar.