De facto, na atual UE, a democracia e os direitos humanos deixaram de contar muito. Será que um eventual Executivo português do PS tentaria alterar esta situação? Não vejo os outros líderes socialistas democráticos europeus a fazerem demasiado nesse sentido.
Merkel ainda mantém para os alemães feriados, horários de trabalho invejáveis, Serviço Nacional de Saúde bom, reformas atempadas e educação pública exemplar. Também mantém os sindicatos com o seu poder intocado, designadamente quanto à gestão das empresas individual ou sectorialmente. Por exemplo, um sector, como o automóvel, só pode investir no estrangeiro, com autorização sindical, reconhecida pelo Governo de Merkel. Se a AutoEuropa continuar nos planos deinvestimento de VW, deve-se isso mais aos sindicatos alemães (e seus interlocutores portugueses) do que a qualquer membro deste Executivo.
Mas fora da Alemanha (que tem ganho muito com a atual situação europeia) temos a extrema-direita à porta do Governo de França, a governar já a Hungria, e não sei como pretenderão qualificar as autoridades políticas da Polónia (que ontem viraram ainda mais à extrema-direita). No Séc. XX tivemos a experiência de ver a extrema direita chegar ao poder aproveitando as regras democráticas, que só depois de bem consolidado o novo poder eram abolidas.
É esta UE que terá de enfrentar agora as negociações com uma Turquia que não cumpre os direitos humanos – da mesma forma que o não cumprem alguns outros membros da UE. É esta UE que fala com desenvoltura em expulsar ou suspender a Grécia, mas não o diz sobre a Hungria. É esta UE, que nos vem de Durão Barroso, que os poderes políticos portugueses estão tão preocupados em satisfazer.
Bem sei que já Tony Blair fez disparates internacionais gravíssimos (com Barroso, Aznar e Bush), que só ontem admitiu ao pedir desculpas numa entrevista à CNN.
Enquanto por cá se discute o que disse ou devia dizer o Presidente Cavaco, e um dirigente obscuro do PSD volta a falar em negociar com o PS, diabolizando ao mesmo tempo este partido. Claro que as bases da PàF não são como a direção, ou talvez sejam, e odeiam realmente cada vez mais o PS. Talvez seja para memória futura (e, neste aso, eleições futuras) como está agora de moda dizer.