De bióloga a ilustradora são três pinceladas de distância

Foi na cidade italiana de Gubbio que S. Francisco de Assis protagonizou a cena que lhe daria, muitos séculos mais tarde, o estatuto de protetor dos animais: a confrontação e domesticação do temível lobo que amedrontava a cidade. E foi também em Itália, em 1931, que uma convenção de ambientalistas em Florença decretou o dia…

À boleia da data, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) convidou a ilustradora Carla Marques a mostrar o seu trabalho ao público. O resultado? A exposição Ilustrações, patente nas instalações da APA desde 12 de outubro até 13 de novembro. Um mês quase certinho para os fãs de ilustração científica de animais, mas não só.

Uma bióloga com queda para o pincel 

Aos 39 anos, Carla Marques recorda que, quase como todas as crianças, gostava de desenhar em pequena. Mas só desde 2006, após frequentar as aulas de Pedro Salgado, uma das maiores referências em Portugal na área da ilustração científica, é que começou a desenvolver o seu trabalho como ilustradora. É que a vida dá muitas voltas, e a sua começou numa área completamente diferente: a Biologia. Entre 1997 e 2002, licenciou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde surgiu o interesse em representar a fauna e a flora pela via do desenho. «Desenho desde muito nova, mas foi durante a licenciatura em Biologia – Recursos Animais Terrestres que renasceu o ‘bichinho’ do desenho, enquanto ilustrava a anatomia dos animais nas aulas práticas ou nas saídas de campo».

 E foi assim, pela via académica, que o gosto pelo desenho renasceu. Em 2010, terminaram as bolsas de financiamento na área da Biologia, e Carla resolveu pôr mãos à obra e desenhou uma nova carreira para a sua vida. 

As vantagens da biologia 

Os conhecimentos que adquiriu, nomeadamente da parte anatómica, começaram a revelar-se como um trunfo na hora de fazer ilustração científica. «Foi importante a minha formação como bióloga, pois a ilustração científica baseia-se muito na componente anatómica e quando não se conhece essa parte falham-se os pormenores. As pessoas que vêm de Belas-Artes preferem desenhar depressa, e no desenho científico é necessário desenhar devagar para não se descurarem detalhes». Além da paciência, a atenção a alguns detalhes é, na opinião da ilustradora, a chave para uma boa ilustração científica: «Foco-me muito nos olhos dos animais, no brilho do pelo e a textura também é muito importante».

Em 2013, Carla ilustrou o livro Um Olhar Sobre os Carnívoros Portugueses, publicado pelo Carnivora (Núcleo de Estudos de Carnívoros e seus Ecossistemas). Desta experiência, resultaram a maioria das ilustrações presentes na exposição e alguns prémios. Na APA, os visitantes poderão ver não só «a faceta da ilustração científica que dá vida ao livro» como uma «vertente mais recente, de ilustração para crianças». 

As últimas experiências refletem uma evolução gradual no trabalho da ilustradora: «Tenho alargado o meu leque de forma autodidática também para a educação ambiental e ilustração infantil». E esse alargamento já conquistou um sítio na internet. A 13 de outubro, um dia após a inauguração de Ilustrações, Carla Marques inaugurou uma galeria online: carlamarques.gallery. 

mariana.madrinha@sol.pt