Cabul, capital do Afeganistão, onde se vive guerra, destruição, e desespero. É também o título da muito aguardada criação cénica e musical de Rui Horta, que reproduz nesta estreia absoluta um ambiente de angústia que se ouve e se sente nesta sexta-feira e sábado, no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, às 22h.

Cabul é uma viagem sonora pela música de Morton Feldman e pelos textos de Heiner Müller. O excerto A Missão é transformado por Rui Horta, que propõe uma nova escrita e um novo olhar dramatúrgico sobre o mesmo.

“Isto vem de um sonho que tive nos anos 80, em Londres. Tinha visto uma peça do [coreógrafo] Mark Morris e sonhei a noite toda com aquilo – sonhei nessa noite a peça perfeita, de tal maneira fiquei entusiasmado. Quando acordei de manhã, tinha essa sensação da peça perfeita, que obviamente nunca consegui fazer”, explica Rui Horta no comunicado sobre o espectáculo.

Mais de 20 anos depois, Rui Horta recupera esse sonho e trá-lo para a realidade atirando um homem para uma missão, que é no fundo uma busca de sentido. “Um homem tem uma missão que procura obsessivamente cumprir, missão essa que adivinhamos nos interstícios da ação. Sem um interlocutor claro e sem um objetivo definido, o seu percurso leva-o a confrontar-se com ele mesmo, com os seus medos e com os seus limites”.

A peça é coproduzida pela Orquestra Metropolitana de Lisboa (dirigida pelo maestro Pedro Amaral), que irá interpretar as obras de Feldman Piano And String Quartet (1985) e For Samuel Beckett (1987), suportando a ação, conduzida pelo ator Pedro Gil.

Nesta criação o público é colocado no centro, rodeado de paletes que desenham uma claustrofobia, enquanto Pedro Gil vai debitando o texto e espalhando a tensão.

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