Frente e Verso

Esperou pela sua vez e a sua vez acabou por chegar. Em Junho de 2011, conquistou o congresso socialista a Francisco Assis com dois terços dos votos militantes.

Ganhou depois duas eleições e mais um congresso em que o elegeram com uma maioria albanesa de 98 por cento. Sabemos a história. António Costa não aplaudiu as suas vitórias autárquicas ou europeias, souberam-lhe a poucochinho. 
A política e a maioria dos líderes tem horror ao vazio. Quando não se aparece, esquece. E se não se aparece dois dias deixa-se o campo aberto aos adversários – é o que pensam assessores de comunicação, especialistas de frases arrebatadoras, idiotas. Há quem tenha enlouquecido por entre tantas pressões e depressões, há até quem tenha insuflado tanto que levantou voo para outras galáxias. 
António José Seguro esperou. E ganhou sem nunca ter ganho a confiança do mundo mediático. Continuou a ser tratado como patinho feio. Por mim também, penitencio-me. E continuou a falar. Quase todos os dias. Sobre tudo e sobre nada. Era necessário ocupar a agenda, não deixar espaço livre. Falou e visitou cidades, aldeias e apeadeiros. Comeu queijos, febras, sardinhas e picanhas. E quanto mais falava, mais se fragilizou. 
Foi apeado do poder quando parecia ter a meta à vista. Saiu e disse que respeitaria o seu direito ao ‘exílio’, que a partir dali a sua resposta seria dada com a força do silêncio. Ninguém acreditou que cumpriria. A verdade é que cumpriu. E cada dia em que esteve ausente, mais poder acumulou. Não o poder que é próprio dos homens com lugares para distribuir, mas o outro, o que não se explica com palavras de simples tradução. Agora, quando falar será ouvido. Em silêncio.
luis.osorio@sol.pt