Para os conhecedores, vão ser três dias de drones, glitches e loops; para os curiosos, pode muito bem tratar-se de uma experiência sónica, porque muitos destes artistas testam a sério os ouvidos do público, indo aos limites de frequências graves e agudas ou desenhando paisagens sonoras etéreas, sem vislumbre das estruturas rítmicas que reconhecemos instintivamente na música pop. Por isso mesmo, para muitos dos leitores, alguns destes concertos seriam apenas descritos como ruído.
“Quando o Semibreve apareceu era um alien. Trabalhamos com artistas de topo, mas que se movem num nicho”, explica ao SOL Luís Fernandes, músico dos Peixe : Avião e um dos organizadores, ao lado de Miguel Pedro e António Rafael, dos Mão Morta, e do empreendedor Tiago Sequeira. A aposta neste género musical faz também parte de “uma estratégia global para cimentar Braga” como uma referência da eletrónica e das artes digitais: “Temos uma ligação ao meio académico, às novas tecnologias e software, que são muito fortes na cidade. Faltava trazer esse conhecimento para o campo da arte”. A apurada componente visual da maioria dos concertos e as instalações em exibição (espalhadas pelas três salas) são outras das imagens de marca do festival.
Em vez de criar mais um festival generalista, o quarteto optou, há quatro anos, por levar ao Minho alguns dos principais nomes da eletrónica de vanguarda. A imprensa especializada acompanhou o evento desde o arranque e, este fim de semana, estão acreditados 15 jornalistas estrangeiros, incluindo representantes da BBC e da RNE (Rádio Nacional de Espanha). A parceria com a Wire – possivelmente a mais influente publicação de música alternativa do mundo – mantém-se desde a edição inicial e a inglesa Dazed and Confused, outra publicação de referência, até incluiu o Semibreve na lista dos 26 festivais mais interessantes do mundo.
Tudo isto poderia ser apenas teoria se o público não aderisse, mas a verdade é que os números têm sido surpreendentes para a organização, que orçamentou o evento em cerca de 40 mil euros, com o apoio da autarquia. Juntar 1.500 pessoas num evento deste género, como acontece desde 2011, não seria um mau número em Berlim ou Londres; nesta edição, os passes para os três dias (30 euros) já esgotaram há um mês e as entradas exclusivas para a noite de sábado (15 euros) também, o que quer dizer que os 800 lugares do Theatro Circo estarão ocupados nesse dia. “Sentimos que as pessoas não conhecem muitas vezes os nomes que cá vêm, mas confiam em nós e no nosso selo de qualidade. E é essa marca que queremos continuar a desenvolver”, sublinha Luís Fernandes.