O PSOE continua a insistir numa reforma constitucional pós-eleitoral, que adote o modelo federalista, mas agora assume como prioridade o “ataque à ilegalidade”. E, após encontro com o atual primeiro-ministro Mariano Rajoy, prometeu “coordenar com o Governo de Espanha todas as medidas que façam respeitar a Constituição e as leis que defendem a unidade de Espanha e salvaguardam a convivência democrática em todo o Estado”.
Foi essa a primeira grande consequência da declaração catalã: a aproximação dos dois partidos que governaram o país durante os quase 40 anos de democracia, ratificada numa foto que foi publicada na quinta-feira na primeira página de oito diários espanhóis, em torno da defesa da unidade nacional. Na quinta-feira, o editorial do ABC aplaudia “a unidade frente ao separatismo” e pedia aos líderes partidários para “estarem à altura da dimensão histórica deste desafio”.
Rajoy procura unidade
Mas estas são também as eleições em que se espera o fim do bipartidarismo, com as sondagens a preverem que o PSOE e o PP passem dos 73% dos votos e 84% dos deputados alcançados em 2001 para um apoio de apenas 50% do eleitorado que se traduzirá num máximo de 60% de representantes parlamentares.
Grande parte da queda anunciada será responsabilidade do novo partido Ciudadanos (C’s), que aparece em empate técnico com socialistas e populares na liderança das sondagens. Rajoy recebeu ontem o líder Albert Rivera para, tal como fez com Sánchez, coordenar uma resposta nacional à ameaça catalã.
Sem querer “entrar em detalhes”, o líder do Governo confirma que o seu plano passa por “aplicar a lei e a Constituição”, ignorando assim a parte da declaração independentista que garante que o processo “não se submeterá às decisões das instituições do Estado espanhol”. E não fechou a porta à ‘bomba’ que tem à sua disposição: “Não gostava de chegar ao ponto de ter de aplicar o artigo 155 da Constituição”, disse em referência à norma que lhe permite, com autorização de uma maioria absoluta no Senado, suspender o estatuto autonómico da Catalunha.
E embora Rajoy insista que “este não é o momento para falar em pactos” governamentais com outros partidos, na oposição já se teme que a aproximação provocada pela Catalunha seja o “prelúdio de uma grande coligação que pretende continuar com a austeridade”, como denunciou o cabeça de lista da Esquerda Unida, Alberto Garzón. O facto de o Podemos ter sido excluído das reuniões com Rajoy, por defender uma alteração constitucional que permita aos catalães convocar um referendo independentista vinculativo, não ajuda a afastar a tese de uma grande coligação.
Corrupção não ajuda
Outra conclusão retirada do facto da declaração independentista ter sido anunciada logo no segundo dia de trabalhos do novo Parlamento catalão é a visível aproximação entre os dois partidos nacionalistas, separados desde a votação pela resistência dos responsáveis da anticapitalista Candidatura de Unidade Popular (CUP) à figura de Artur Mas. No editorial de quinta-feira, o El País acusava o presidente da Generalitat de ter cedido perante uma declaração “inspirada até ao último detalhe” pelos radicais da CUP, considerando que está agora ao “serviço dos antissistema”.
Os responsáveis da CUP admitem agora que decorrem “negociações” com o objetivo de “dar posse a um presidente a 9 de novembro”, mas o deputado Benet Salellas voltou a reafirmar a intenção do partido em não apoiar um novo mandato de Mas. A austeridade imposta no último mandato é a razão apontada pela CUP, mas os problemas que o atual líder da Convergência acumula com a Justiça não ajudam.
Já citado por ter recorrido a meios públicos para realizar o referendo de 2014 – considerado previamente ilegal pelo TC -, Mas vê agora o partido envolvido num escândalo de corrupção por alegadamente se financiar através de luvas recebidas em adjudicações de obras públicas. O caso dos 3% – valor cobrado nas luvas – já levou à detenção temporária do tesoureiro do partido, tal como o seu antecessor e outros 10 arguidos, entre responsáveis do governo regional e das empresas envolvidas.