Os três euros de ingresso, que podem ser descontados depois integralmente na compra de livros (por um livro de 13 euros, por exemplo, o visitante pagará 10 euros), não demovem os turistas, mas também muitos portugueses. Mesmo nesta época baixa a média de visitantes é de 1.500 por dia e esta tarde não pararam as filas, que se estendiam até à Rua Galeria de Paris.
O pagamento de bilhete de ingresso, que começou só há três meses, terá proporcionado uma receita própria de quase 700 mil euros, segundo uma estimativa feita pelo SOL com base na média diária de 3.000 mil visitantes por dia na época alta (agosto e setembro) e de 1.500 visitantes diários em outubro (já época baixa). Os números foram avançados hoje por Carla Ribeiro, da direção de marketing da Lello.
No entanto, segundo revelou ao SOL a mesma responsável, não foi apenas o lucro com os ingressos que levou à decisão de impor entradas pagas, no dia 23 de julho deste ano: “Foi principalmente porque somos uma livraria que só tinha muitos turistas, até demasiados turistas, para podermos cumprir o nosso objeto social, que é vender livros”.
“As pessoas vinham muito cá, mas só tiravam fotografias, dado o caráter arquitetónico da livraria, mas ninguém comprava livros quando é para isso que nós afinal existimos”, salientou Carla Ribeiro.
E agora, o que mudou? "As pessoas sentam-se, folheiam livros e pedem as nossas opiniões, isto é, passámos a ser novamente uma livraria como as outras”, conta aquela responsável, lembrando que a Lello tem livros de literatura portuguesa traduzidos para várias línguas, adaptados para muitos estrangeiros que nos visitam e que assim podem levar com eles a nossa cultura.
“Mesmo num fim de semana normal e em que já existe uma quebra de turismo muito grande, nós não sentimos essa descida, conforme pode constatar neste momento”, disse Carla Ribeiro, referindo-se às filas contínuas à porta da Lello & Irmão, a Livraria Chardron, o nome de um dos seus primeiros responsáveis, que na época editava livros.
“Há ainda o Cartão Amigo da Livraria Lello, que custa dez euros, sendo um cartão de família que dá para quatro pessoas, permitindo deduzir essa mesma quantia na compra de livros durante um ano”, explicou Carla Ribeiro, acrescentando que se pretende "um serviço personalizado”. “Esta foi a nossa grande oportunidade de finalmente vendermos livros e de aumentar a nossa oferta, que é muito variada”, salientou Carla Ribeiro, considerando “ter sido uma viragem total” o sistema de pagamento de entrada.
A afluência diária é tão grande que já está em funcionamento permanente um quiosque em frente, só para vender ingressos.
Além de portugueses e de brasileiros, a livraria regista especialmente durante o verão visitas de espanhóis, italianos, belgas, norte-americanos, russos e também muitos orientais. “Mas temos um público mais português do aquilo que pensávamos inicialmente”.