Golfe | O Professor, que adora jogar

Como amador conquistou os dois mais importantes troféus em Portugal: a Taça da Federação e o Campeonato Nacional.

Chegou a profissional há 10 anos. Somou algumas vitórias internas, levou, juntamente com o irmão, a bandeira portuguesa ao Mundial de 2011, e é tri-campeão europeu de profissionais de ensino.

Hugo Santos, divide agora o tempo entre os torneios e as aulas, mas é no campo, a jogar, que se sente em casa.

Ser profissional de golfe esteve sempre dentro de Hugo Santos. Não se lembra de quando, nem de onde nasceu essa vontade. Estava simplesmente lá. Foi crescendo e concretizou-se há 10 anos atrás.

O plano, admite Hugo Santos, não passava por conciliar as duas vertentes – jogo com ensino -, mas esta coisa de planos, já se sabe que não infalível.

“Quando eu comecei a gostar do jogo, sempre tive presente tornar-me profissional. Esteve sempre dentro de mim, mesmo sem eu pensar muito sobre isso”, explica o golfista de 32 anos, o mais novo dos irmãos Santos que nasceram para o golfe em Vilamoura.

Tinha 10 anos, quando, pela mão do tio – José Carlos Santos – pisou pela primeira vez um driving range. Gostou do que viu. Do que sentiu. Do peso do taco na mão. Do baloiçar do corpo. Da bola a voar, cada vez mais longe. Cada vez mais alta.

“O meu tio, irmão do meu pai, sempre foi muito ligado ao desporto e foi puxando a mim e ao meu irmão para a prática de atividades físicas”, recorda Hugo Santos. Um ano antes, tinha-o levado para o judo, mas a experiência não foi nada boa. “O treinador punha-me a treinar com uma ajudante, que tinha mais de 18 anos e era já cinturão castanho.”

O resultado, foi uma sucessão de “tareias” que fizeram Hugo Santos fugir dos tapetes para os fairways e greens. E ainda bem que fez. Depressa começou a ganhar torneios no Clube de Golf de Vilamoura, e aos 17 anos colocou-se no radar golfe nacional ao vencer o Campeonato Nacional de Jovens, no Estoril.

Foi a primeira vitória em torneios federativos, e um ou dois meses depois – já não se lembra bem – veio a segunda conquista, e logo na Taça da Federação. “Foi a partir daí que comecei a ser chamado para as seleções nacionais, e a competir lá fora”, conta.

A passagem a profissional surgiu com naturalidade, mas as novas responsabilidades trouxeram alguns problemas. “Nunca tive um patrocinador grande, que apostasse em mim com continuidade, de forma a eu poder jogar um bom circuito no estrangeiro”, lamenta. Mesmo assim, o patrocino de algumas empresas e o apoio de amigos, permitiu-lhe jogar alguns torneios e ir à Escola de Qualificação. “Se não fosse graças a eles, se calhar não teria conseguido jogar”, reconhece Hugo Santos, que coloca o apuramento e a presença no Campeonato do Mundo de 2011, que disputou-se na China, como o ponto alto da carreira

“Conseguir o apuramento e ainda por cima a jogar com o meu irmão? Não podia ter sido melhor. Foi muito especial”, explica, reforçando a amizade e o companheirismo que o une a Ricardo santos, três anos mais novo. “Quando eramos amadores treinávamos e jogávamos juntos, e mesmo num torneio, em que o nosso objetivo é vencer, não fico chateado se ficar em segundo e ele em primeiro”, garante, acrescentando que fala pelos dois. “É uma ligação muito forte, e eu sei que ele sente o mesmo”, diz, referindo-se a Ricardo Santos, que joga no European Tour.

Hugo (ainda) não conseguiu chegar tão longe, mas tem somado vitórias importantes. Em quatro presenças no prestigiado Unicredit PGA's of Europe Championship, considerado o campeonato europeu de profissionais de ensino, venceu três.

Este mês vai defender o título conquistado em 2014. “Ser tri-campeão é outras das coisas que guardo com carinho e orgulho”, diz, explicando que o Unicredit, apesar de ser apenas para profissionais de ensino conta com excelentes jogadores. “Muitos já jogaram em circuitos importantes”, lembra o profissional de Vilamoura, que hoje partilha o driving range com Abílio Coelho, que foi um dos primeiros treinadores que teve.

Esta vertente do golfe, o ensino, não foi fácil para Hugo Santos. Aconteceu tudo muito rápido, e os primeiros tempos foram complicados. “Estava habituado a estar do outro lado, a ser ensinado, não a ensinar, daí que no início foi muito estranho. Desconfortável mesmo”, admite, acrescentando que nas primeiras aulas estava quase mais nervoso do que no primeiro tee de um torneio importante. “Não foi uma coisa planeada, e foi uma decisão muito difícil de tomar, motivada pela necessidade de ganhar dinheiro extra, porque só com os torneios, não estava a conseguir.”

Agora, sublinha, já gosta. “A experiência que adquiri e os curso que fiz, dão-me agora muito mais confiança.”

Por isso, o calendário de Hugo Santos é dividido entre as aulas e os torneios que joga em Portugal. Este ano já conta com algumas vitórias, ao mesmo tempo que integra as equipas técnicas da Federação Portuguesa de Golfe e da PGA Portugal, vai fazendo o que mais gosta: jogar golfe.

“É um orgulho enorme, uma grande honra fazer parte destes projetos, mas claro há torneios, como o Open da Madeira, em que estive a acompanhar o Tomás Bessa, em que ao ver todos aqueles profissionais a jogar, sinto falta.”

Faz parte. A crise económica não ajuda, e os apoios em Portugal não chegam para todos. Mesmo assim, algumas empresas “têm feito um esforço” e apoiado alguns jogadores portugueses, e Hugo Santos não se arrepende das opções que tem tomado.

A passagem a profissional, por exemplo, não foi também fácil. “Sempre senti que tal como tinha feito enquanto amador, estava a representar o meu país, mas o cenário que enfrentamos é muito diferente”, recorda, exemplificando com a pressão que os resultados têm na carreira. “Estamos por nossa conta. Tentamos arranjar apoios, patrocinadores, mas precisamos de mostrar resultados para eles aparecerem.”

É uma equação difícil de resolver, mas Hugo Santos, apesar de (ainda) não ter conseguido encontrar totalmente a solução, não desiste e vai conciliando os dois mundos: o ensino e o jogo.

Ambas, acabam por ser um único mundo. O fio condutor que comanda a vida de Hugo Santos, desde aquele dia, que sem saber, entrou pela mão do tio num driving range.

Artigo escrito por Márcio Berenguer​ ao abrigo da parceria entre a Revista GOLFE Portugal & Islands com o Jornal SOL.