A informação foi prestada à Lusa, em Luanda, pela mulher, Mónica Almeida, e pelo advogado, Luís Nascimento, confirmando ambos a saída durante a tarde de hoje do ativista da clínica privada da capital onde estava, sob detenção, desde 15 de outubro, devido ao estado de saúde.
"Visitei-o no hospital no domingo e este era um passo que já esperava, normal nesta fase. Mas foi um pouco mais cedo do que eu esperava", disse à Lusa o advogado Luís Nascimento.
O músico e ativista, que também tem nacionalidade portuguesa, é um dos 15 angolanos em prisão preventiva desde junho – mais duas jovens aguardam em liberdade provisória – sob acusação de atos preparatórios para uma rebelião em Angola e um atentado contra o Presidente da República.
A greve de fome de Luaty Beirão, cujo fim foi anunciado a 27 de outubro, visou protestar contra o alegado excesso de prisão preventiva e exigindo aguardar julgamento em liberdade, conforme prevê a lei angolana para este tipo de crime.
Durante a greve de fome, Luaty Beirão chegou a expressar a vontade de regressar à cadeia de São Paulo, onde os restantes ativistas permaneciam detidos, os quais, por sua vez, tinham apelado ao fim do protesto, devido à situação de saúde.
Luaty Beirão, de 33 anos, iniciou há uma semana, com o acompanhamento médico e de um nutricionista, o processo de realimentação, inicialmente apenas com líquidos, depois de ter perdido 23 quilogramas.
"Ingere uma refeição sólida, muito leve, por dia, neste programa de dez dias. Está a evoluir bem", explicou, também hoje, antes da transferência, Mónica Almeida.
O julgamento deste processo arranca a 16 de novembro, no tribunal de Cacuaco, nos arredores de Luanda, pelo que além da recuperação da condição de saúde, Luaty Beirão ainda tenta participar na defesa, a cargo dos advogados Luís Nascimento e Walter Tondela, que representam 13 dos 17 acusados.
Em concreto, sobre Luaty Beirão, a acusação do Ministério Público diz que o músico e ativista "confirmou nas suas respostas" – testemunho cuja autoria foi entretanto negada pelo próprio – que os encontros que este grupo organizava, aos sábados, em Luanda, visavam "a preparação de realização de ações para a destituição do Presidente da República e do seu Governo, ao que se seguiria a criação de um Governo de transição", recorrendo para tal a manifestações e com barricadas nas ruas.
Na carta em que anunciou o fim da greve de fome, durante a qual perdeu 23 quilogramas, o ativista avisou que não vai desistir de lutar.
"Estou inocente do que nos acusam e assumo o fim da minha greve. Sem resposta quanto ao meu pedido para aguardamos o julgamento em liberdade, só posso esperar que os responsáveis do nosso país também parem a sua greve humanitária e de justiça", lê-se na carta de Luaty Beirão.
Lusa/SOL