"A esmagadora maioria dos decisores políticos em democracia (e não só) passaram, antes ou depois de ocuparem os cargos, por Bilderberg. Dos 73 portugueses nos encontros, 43 foram (ou são) ministros, oito desempenharam funções como secretários de Estado, 12 foram líderes dos três partidos do 'arco da governação', cinco foram primeiros-ministros e um foi Presidente da República" — Jorge Sampaio, lê-se no livro de Rui Pedro Antunes.
Para o autor, a grande ausência destas reuniões à porta fechada que juntam anualmente, e durante três dias, cerca de uma centena dos mais influentes cidadãos do mundo, foi o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Portugal tem um representante permanente no Comité Diretor de Bilderberg. O antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão ocupou o cargo durante três décadas até ter passado a pasta ao também social-democrata Durão Barroso, em maio último.
Segundo Rui Pedro Antunes, Balsemão terá convidado o atual chefe de Governo antes de Passos ser primeiro-ministro mas o então presidente do PSD "não pôde ir".
"Mais uma vez podia ter acontecido aquilo que aconteceu nos últimos 20 anos com todos os primeiros-ministros à exceção de Passos Coelho, que foram a Bilderberg antes de serem primeiros-ministros", afirmou o autor à Lusa.
Na obra "Os planos de Bilderberg para Portugal — Como o clube mais poderoso do mundo influencia o destino da nação", o autor refere também que a "crise do irrevogável" provocada por Paulo Portas ocorreu 18 dias antes do vice-primeiro-ministro e do então líder do PS, António José Seguro, terem participado reunião de 2013.
Apesar de não querer fazer juízos de valor, Rui Pedro Antunes lembra que na altura o então presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, e o antigo presidente da bancada parlamentar comunista Octávio Teixeira associaram os dois eventos.
Quem tem acesso vedado a estas reuniões é a extrema-esquerda, declarou o autor, acrescentando que "em Portugal o limite será o PS, não é convidado ninguém do PCP ou do Bloco de Esquerda".
Em relação à atual situação política portuguesa, o jornalista do Diário de Notícias considera que uma governação que inclua PS, PCP e Bloco de Esquerda é "contra tudo o que Bilderberg sempre defendeu".
"Bilderberg normalmente defende um acordo de Bloco Central", vincou Rui Pedro Antunes.
O autor tentou conseguir informações do que se passa nas reuniões deste clube por parte de algumas das pessoas que por lá passaram, mas sem sucesso, pois "quase tudo o que se passa em Bilderberg fica em Bilderberg" devido a uma regra de silêncio imposta aos participantes.
Os participantes "contam que estiveram ao pé de um determinado rei, que a segurança era muito apertada ou menos apertada, mas depois falar sobre o que se passa lá dentro não falam, e tudo isso contribui para a opacidade e para a falta de transparência que o clube tem", referiu.
Após a investigação jornalística que levou a cabo para suportar este livro, Rui Pedro Antunes salientou que ainda falta "saber o nível e grau de influência que as coisas que se discutem, que se falam, que se combinam em Bilderberg, de facto têm depois nos atos que acontecem".
"Porque acontecem, há pessoas que vão a Bilderberg que são perfeitos desconhecidos e passados quatro ou cinco anos ocupam cargos de topo e isso não deve ser ignorado, no sentido em que de facto há ali um lóbi", vincou.
Lusa/SOL