BCP, BPI e Totta lucram 3,5 milhões por dia

A ‘earnings season’ da banca ainda não terminou, mas os resultados dos três maiores bancos privados já são conhecidos. BPI e BCP passaram de prejuízos a lucros nos primeiros nove meses do ano, enquanto o Santander Totta reforçou os resultados líquidos. Em conjunto, as três instituições lucraram 592,2 milhões de euros. Feitas as contas, encaixaram…

A melhoria dos resultados reflete o aumento do produto bancário, o crescimento dos resultados com operações financeiras, à boleia dos ganhos com a venda da dívida pública portuguesa, o corte dos custos de estrutura e o esforço de provisionamento. A este quadro soma-se a ainda ténue recuperação das condições económico-financeiras do país com impacto positivo na atividade doméstica do setor.

No desempenho individual, o BCP destaca-se como o campeão dos lucros. Registou um resultado líquido de 264,5 milhões de euros até setembro, o que compara com um prejuízo de 109,5 milhões de euros no período homólogo do ano anterior. Conquistou também o resultado trimestral mais elevado desde 2012. Assim, a instituição de Nuno Amado conseguiu retornar aos lucros após quatro anos de prejuízos, tal como previsto no plano estratégico delineado para a instituição. Apesar da recuperação da rendibilidade em Portugal, a atividade internacional representa 56,5% do lucro consolidado. Destacam-se as operações em Angola e Moçambique, numa altura em que operação na Polónia deu um menor contributo para o BCP, uma vez que o banco reduziu a sua participação no Millennium polaco de 65,5% para 50,1% em março. Ainda na esfera internacional, o BCP tem em curso um projeto de fusão do Millennium Angola com o Privado Atlântico, que deverá estar concluído até março de 2016.

Operações em África impulsionam BPI

O resultado do BPI passou do vermelho para o verde, fixando-se em 151 milhões de euros no período em análise. Embora o negócio dentro de portas tenha recuperado, a verdade é que a atividade internacional representa 75% do resultado obtido pela instituição liderada por Fernando Ulrich, numa altura em que os gestores estão a trabalhar na criação de uma holding para separar as participações africanas do BPI.

Para responder às regras do Banco Central Europeu e resolver o problema do excesso de concentração de riscos no mercado angolano, a empresa terá os mesmos acionistas, mas será independente do BPI e com uma diferente administração.

Além das aprovações regulatórias, a chave do sucesso desta operação está na decisão dos acionistas, mais concretamente no voto de Isabel dos Santos. A empresária angolana, que controla 18,6% do capital da instituição, já sinalizou que pode vetar a operação. Fernando Ulrich admitiu estar em conversações com a segunda maior acionista do banco. «Estamos a trabalhar para alcançar os objetivos que penso que são comuns a todos», garantiu. O retrato do BPI pós-cisão não é do agrado do banqueiro que, na apresentação de resultados, confessou: «Gostava que o BPI continuasse como está. Não é o meu sonho de vida. Mas manda quem pode – o BCE – e obedece quem deve – o BPI».

Sem reestruturações desta magnitude, o lucro do Santander Totta registou um aumento de receitas, menores custos operacionais e diminuição das dotações para imparidades e provisões. O lucro cresceu de 48,7% para 176,7 milhões de euros. A venda da posição no banco angolano à CGD contribuiu com 39 milhões de euros para as contas do banco presidido por Vieira Monteiro.

Crédito em risco é significativo

Entre as três instituições, o Santander Totta foi a única que registou um crescimento na carteira de crédito – concedido a empresas e a particulares para a habitação – e um aumento, ainda que residual, dos depósitos. No BCP, o volume de crédito a clientes recuou 4% e os recursos registaram uma alteração marginal de 0,5%. No BPI, o crédito diminuiu 6% e os recursos totais subiram 2,4%.

Apesar de os bancos continuarem a reduzir o gap entre empréstimos concedidos e depósitos captados, a qualidade da carteira de crédito continua a ser um dos principais desafios.

Em termos acumulados, BCP, BPI e Santander têm quase 9,4 mil milhões de euros de crédito em risco, um indicador imposto pela troika e mais abrangente do que o crédito em incumprimento. Engloba a totalidade da dívida contratada pelos clientes que se encontram em incumprimento e a possibilidade dos devedores com prestações em atraso continuarem a não cumprir as suas responsabilidades de crédito. O BCP apresenta o rácio mais elevado – 11,9% do crédito total, correspondente a quase 6,7 mil milhões de euros.

Se for apenas contabilizado o crédito com prestações e juros vencidos há mais de 90 dias, as instituições somam um total de 6,3 mil milhões de euros em incumprimento.

Banca à margem dos testes de stresse de 2016

Em termos de capital – outra das grandes preocupações dos banqueiros –, os três maiores players da banca privada melhoraram os seus rácios face a setembro do ano passado.

Já depois da apresentação de resultados, o BCE publicou a lista dos 53 bancos da União Europeia que serão submetidos aos testes de stresse de 2016, que pretendem avaliar a resiliência das instituições perante cenários de crise profunda. Os bancos portugueses ficarão à margem do exercício conduzido pela Autoridade Bancária Europeia. No entanto, como o BCE vai conduzir em paralelo um teste para as entidades bancárias significativas da zona euro, o CGD, BCP e BPIpoderão ser abrangidos.

Já no que se refere ao Novo Banco, os resultados dos testes serão divulgados ainda este mês. Na sequência da resolução do BES, a avaliação tinha sido adiada para este ano. A incógnita sobre as necessidades de capital da entidade que herdou os ativos saudáveis do BES foi uma das razões a ditar o fracasso da primeira tentativa de venda da instituição e será decisiva para determinar os moldes do próximo processo de venda.

Para já, os presidentes do BCP e do Santander rejeitam a participação do Fundo de Resolução – alimentado com as contribuições do setor financeiro – num eventual aumento de capital do Novo Banco. Alegam que, no âmbito dos compromissos assumidos com Bruxelas, o Fundo está impedido de mobilizar mais recursos. Para já, o Novo Banco e o Banco de Portugal estão a desenhar um plano de reestruturação para a instituição, que deverá abranger a redução da estrutura, a venda de ativos e eventualmente novos investidores.

sandra.a.simoes@sol.pt