Televisão perfeita
Em 1996, os irmãos Ethan e Joel Coen realizaram o excelente filme Fargo. Em 2014, o guionista Noah Howley fez uma série de televisão baseada no filme, que também foi produzida pelos Coen. Poucas são as parecenças entre a versão de Howley e o filme, além de talento, qualidade e título. Agora podemos ver a segunda temporada de Fargo no canal TV Séries e continua a maravilha e o espanto. Não há dúvida de que as duas temporadas desta série são do mais perfeito alguma vez realizado para televisão. A segunda temporada antecede os acontecimentos da segunda. Até ver, não há nenhuma relação entre os crimes nas duas temporadas, salvo uma ligação familiar entre quem os resolve. Na segunda temporada temos o jovem xerife Lou Solverson, pai de Molly Solverson, que resolverá os crimes na primeira temporada. Mantém-se a mensagem no início de cada episódio a lembrar que a história é verídica. Sabemos que não é. A verdade é uma mentira e só o génio é autêntico.
Fomos poupados
Valérie Trierweiler, antiga namorada de François Hollande, abandonada e trocada pela atriz Julie Gayet, tem um problema. Depois de publicar um livro de memórias com o título Obrigada por este momento, motivada pelo ódio (compreensível) e a vingança (censurável mas também compreensível), vendeu os direitos para fazer um filme. Ora, o filme morreu na pré-produção. Segundo Trierweiler, os assassinos dos cartoonistas do Charlie Hebdo e os homicidas do supermercados de produtos kosher levaram-na a não assinar o contrato. O seu agente, por outro lado, disse que o problema estava relacionado com o casting. Ninguém queria participar. Não acredito em nenhuma das explicações. Os terroristas são culpados de muitas coisas mas não de impedir a rodagem de um filme destes. Também não acredito que o presidente francês seja assim tão popular ao ponto de inspirar um boicote espontâneo. Só posso concluir que a história dos dois é completamente desinteressante.
Viver é perigoso
Li um artigo na revista The Atlantic sobre a confusão provocada pela Organização Mundial de Saúde quando disse há dias ao mundo que a carne processada e as carnes vermelhas eram tão cancerígenas quanto o tabaco. À exceção da Argentina, cuja imprensa ignorou pacificamente o aviso, houve um surto de pânico na comunicação social e nos consumidores mundiais. Dantes era o mercúrio no peixe e agora já nem nos deixam comer um cozido à portuguesa! O artigo explica que o problema está na incapacidade de a OMS comunicar as suas descobertas. As classificações da OMS não servem para mostrar quão perigosas certas coisas são para a saúde. As várias classificações indicam o grau de certeza que temos sobre certas coisas nos fazerem mal. Ou seja, o consumo de carne vermelha, quando excede os 50 gramas por dia, todos os dias, potencia certos tipos de cancro. Mas isso não significa que é a causa da doença. Confusos? Aguardemos a próxima declaração da OMS.
Tenho dúvidas
Um estudo realizado pela Universidade de Oxford concluiu que existem duas formas de tratamento eficazes para uma doença misteriosa chamada fibromialgia ou síndrome de fadiga crónica. Os sintomas são físicos e psicológicos e tão vastos como o cansaço extremo, depressão, insónias e dores musculares, dores de cabeça e dores nas articulações. Ninguém sabe precisar as causas desta doença incapacitante, mas persistia a ideia de que fazer exercício físico piorava a situação. O novo estudo refere os benefícios do exercício físico, o que é uma mudança de ideias da parte dos especialistas. Mas o mais extraordinário está na descoberta dos efeitos da terapia cognitiva e comportamental. Parece que terapias baseadas no pensamento positivo e que implicam formas de ‘reformatação’ das pessoas podem ajudar estes pacientes a lidar com a doença. Imagino que uma pessoa possa ser convencida de que está bem quando não está, mas a mentira não dura para sempre.