Embarcações de pesca evitam novo naufrágio na Figueira da Foz

Três embarcações de pesca evitaram, hoje de madrugada, um novo naufrágio à entrada da barra da Figueira da Foz, socorrendo um arrastão espanhol que estava à deriva entre os molhes, disse fonte da Autoridade Marítima.

Em declarações à agência Lusa, o comandante do porto da Figueira da Foz, Silva Rocha, confirmou o incidente, explicando que o arrastão "Catrua", registado em Vigo e com nove tripulantes a bordo, tentou entrar na barra cerca da 01:30 com problemas de motor e "esteve em risco iminente de colisão com o molhe norte".

Entretanto, constatou-se que o mestre da embarcação apresentava sinais de embriaguez. O homem foi ouvido pela Polícia Marítima e presente ao procurador do Ministério Público, desconhecendo-se eventuais medidas de coação até ao início da noite.

"Apresentava indícios fortes de estar sob a influência de substâncias", afirmou Silva Rocha, adiantando que o incidente vai ser alvo de um inquérito da Autoridade Marítima.

O responsável disse ainda que o mestre pode vir a ser acusado de condução perigosa de meio de transporte por ar, água ou caminho-de-ferro (artigo 289.º do Código Penal), punível com pena de prisão de um a oito anos.

Caso a eventual conduta seja praticada por negligência, a eventual punição poderá variar, de acordo com aquele normativo legal, entre uma pena de multa ou prisão até cinco anos.

   Segundo o comandante, o mestre do barco teria a intenção de entrar no porto para reparar o motor, mas fê-lo "demasiado junto ao molhe, completamente fora" do enfiamento normal do canal de navegação, com nevoeiro cerrado, situação climatérica que por si só não seria impeditiva.

Um outro arrastão ("Scorpius") que ia a sair terá, segundo Silva Rocha, avisado o mestre do navio espanhol da colisão iminente.

O mestre "meteu propulsão à ré [marcha atrás]" e conseguiu evitar a colisão com o lado norte do molhe, do lado da praia da Figueira da Foz, mas "ficou sem propulsão e à deriva".

Acabou por ser socorrido, numa primeira fase, pelo "Marco Flávio", uma pequena embarcação de pesca com 13 metros e 150 cavalos de potência que conseguiu passar-lhe um cabo e evitar que o arrastão, à deriva entre molhes e que chegou a encostar ao molhe sul, encalhasse e naufragasse. No entanto, o pequeno pesqueiro viu-se em risco de colisão com as pedras e teve de largar o arrastão.

O navio espanhol acabou por ser socorrido e rebocado para o interior do porto de pesca por outro arrastão ("Neptuno") que ia a sair e inverteu o rumo: "Conseguiu passar cabos e entrar de braço dado com o arrastão espanhol", explicou o comandante do Porto.

Aa 06 de outubro o arrastão "Olívia Ribau", com sete pescadores a bordo, naufragou à entrada do porto da Figueira da Foz. Dois homens foram resgatados com vida, uma hora depois do acidente, por uma moto de água da Polícia Marítima, e cinco morreram.

Na sequência do incidente de hoje, elementos da comunidade piscatória voltaram a questionar a falta de meios de salvamento.

"Não houve ajuda, não veio ninguém. Esteve quase a naufragar e ninguém acudiu, foram os pescadores que evitaram mais um naufrágio", disse à agência Lusa o mestre de uma das embarcações de pesca envolvidas no socorro.

Outro pescador disse que uma lancha do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) "demorou muito" a aparecer e quando o fez já o arrastão "quase a atracar".

Ouvido pela Lusa sobre estas críticas, Silva Rocha afirmou que todos os meios de salvamento foram ativados, nomeadamente a lancha do ISN, que "acompanhou o reboque do arrastão" para o porto de pesca.

Questionado sobre a existência de rebocadores na Figueira da Foz, ao serviço da administração portuária, Silva Rocha disse que um dos rebocadores "foi também ativado", mas por não ter prontidão imediata — dado estar adstrito à manobra de navios comerciais, de acordo com fonte portuária – não chegou a ser utilizado.

Quanto à possibilidade de os rebocadores virem a ser empregues em ações de salvamento, Silva Rocha remeteu a questão para a administração do porto da Figueira da Foz.

"A nossa função é salvar vidas e, neste caso, a solução estava encontrada", frisou. 

Lusa/SOL