Stan Douglas
Dos três trabalhos de Stan Douglas na exposição Interregnum no Museu Coleção Berardo, The Secret Agent foi o que mais me interessou. Trata-se de uma instalação em vídeo onde é apresentada uma longa-metragem de pouco mais de 53 minutos. A novela de Joseph Conrad é adaptada à realidade portuguesa em 1975 e conta com a participação de atores portugueses como Beatriz Batarda, Gonçalo Waddington, Miguel Guilherme, entre outros. O filme é falado em inglês, não é legendado e é transmitido não como um filme que se vê no cinema mas em seis ecrãs em simultâneo, que mostram perspetivas diferentes das mesmas cenas. Os espetadores estão sentados no meio da sala, nos poucos bancos desconfortáveis ou no chão e têm de se ir virando à medida que as imagens vão aparecendo nos vários ecrãs. Como se estivessem a ‘correr atrás’ do filme. Imagino que o desconforto seja propositado. Muitas das pessoas que entraram na sala saíram passado pouco tempo. Fizeram mal.
É razoável
A OCDE fez um estudo sobre o consumo de álcool no mundo. O estudo não é grande coisa mas fornece algumas informações curiosas no meio de outras que são apenas inúteis e imbecis. Por exemplo, em último lugar das nações estudadas com um consumo de zero litros anuais por pessoa encontramos a Indonésia. Surpreende-me que se tenham dado ao trabalho de estudar o consumo de álcool num país com a maior população muçulmana do mundo. Se tivessem descoberto que a média era de um litro por pessoa, isso sim seria notícia. Para compensar, há outras informações engraçadas. A população masculina tende a beber mais quanto melhor lhe corre a vida. Com as mulheres é ao contrário. Também gostei de saber que as percentagens maiores de consumo pertencem à Estónia, à Áustria e à Lituânia e que na verdade só são alcançadas por 20% da população que bebe. Quer isto dizer então que num jantar onde estiverem dez pessoas, só duas ficam realmente perdidas de bêbedas.
Gratidão amorosa
Um casal não muito jovem despede-se no meio da rua depois de se abraçar e beijar apaixonadamente. Ele afasta-se um bocadinho a correr e ela diz-lhe ao longe, “obrigada”. Perante o agradecimento inesperado, o homem para, vira-se para trás e volta também a correr em direção da mulher para lhe pedir que repetisse o que tinha dito – obrigada porquê? Tudo isto se passa em segundos, com testemunhas anónimas, transeuntes alheios ao casal apaixonado, metidos na sua vida sem olhar para ninguém. Talvez mais alguém além de mim tenha reparado nesta troca de palavras de amor profundo, mas não as tenha reconhecido como tal. O que tem a gratidão a ver com amor? E será que o amor se agradece assim? Afinal podia ser só “obrigada pelo almoço, pela boleia, por teres ido buscar as calças à lavandaria”. A mulher tinha qualquer coisa na mão. Pode ter agradecido uma coisa em concreto. Ou então disse: “obrigada por fazeres parte da minha vida”. Foi isto que ouvi.
All you need is love
Uma simples alteração no Twitter causou grande stress aos utilizadores durante umas horas. A mudança de uma estrela para um coração fez com que várias pessoas manifestassem o seu desagrado perante a mudança de ‘favoritar’ tweets (do inglês, favorite) para ‘amar’ tweets, ou seja o que for que quer dizer o coração. Os receios pareciam estar relacionados com algum mal-entendido que pudesse surgir de colocar um coração no tweet de alguém. É possível que seja uma dúvida muito portuguesa. Emily Bell, no Guardian, interpreta esta mudança como uma preocupação similar à do Facebook, que anda a estudar uma série de emojis para diversificar a expressão de emoções na rede social, além do like. Diz Bell que o Twitter sabe que os bons sentimentos são mais rentáveis do que o conflito, daí a escolha do coração como meio de mostrar afinidade. Talvez os corações ajudem a reduzir os níveis de belicosidade no Twitter. Alguém há-de ganhar dinheiro com a paz.