Em declarações à agência Lusa, a propósito da detenção na terça-feira de 14 pessoas, oito examinadores e seis proprietários e funcionários de escolas de condução, por suspeitas de corrupção passiva e ativa e falsificação de documentos, Alcino Cruz disse "não ter ficado surpreendido com o resultado da operação" levada a cabo pela Polícia Judiciária (PJ).
"Não me surpreendeu em nada. A corrupção nos exames de código não é nova. Já alertámos o IMT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes] várias vezes e até agora nada foi feito. Nós defendemos que deveria haver em todas as salas de exames de código uma vigilância gravada e a interdição de telemóveis", salientou.
Alcino Cruz adiantou que a APEC já conta com equipamentos de videovigilância e que é proibido o uso de aparelhos eletrónicos nas suas salas de exames.
"Tivemos aqui várias pessoas que apresentaram equipamentos sofisticados ilegais e que conseguimos detetar porque temos todas as sessões gravadas em videovigilância. Não é permitida também a utilização de telemóveis. Mesmo que os levem para a sala de exames, não conseguem ter sinal", disse.
Na opinião de Alcino Cruz, sem a implementação da videovigilância "não é possível eliminar a corrupção nos exames de código".
"Nos exames de condução é mais difícil de eliminar a corrupção, mas nos de código é possível", salientou o mesmo responsável.
O presidente da APEC adiantou que a associação tem vindo a alertar para a situação desde 2000, sendo que em setembro passado voltou a falar sobre o assunto com o IMT.
"Defendemos também junto do IMT que as provas deveriam ser localizadas no centro de exames e que a legislação deveria ser mais dura para quem viola as regras", concluiu.
A PJ informou na terça-feira que na operação "Megahertz" foram detidos doze homens e duas mulheres ligados a fraudes com cartas de condução, tendo sido realizadas oitenta buscas domiciliárias e não domiciliárias.
De acordo com a SIC, oito dos detidos são do centro de exames do Automóvel Clube de Portugal (ACP), no Porto.
Segundo a PJ, o modo de atuação dos alegados suspeitos da prática dos crimes consistia em fazer aprovar os candidatos em exames teóricos (Código), com recurso à utilização de diversos equipamentos tecnológicos para registo de imagem e comunicação rádio com o objetivo de obtenção das respostas corretas, mediante contrapartidas de quantias monetárias.
Lusa/SOL