‘Nu deitado’, de Modigliani, tornou-se o segundo quadro mais caro arrematado em leilão. Picasso mantém o recorde

A história é conhecida.

Um homem pintou as paredes do quarto de hotel, pintou-as delirantemente, de raiva pela sua crescente tendência para as insónias. No dia seguinte, o dono do lugar (diz a lenda), berrou o mais que pôde, ameaçou-o de processos, mandou limpar as paredes e esperou que a justiça fizesse a sua parte. O homem chamava-se Pablo Picasso e o dono do hotel percebeu aí que Deus lhe reservara o lugar de pobre diabo.

Lembrei-me da história a pretexto de mais uma notícia sobre quadros e dinheiro. Agora é Modigliani e o seu ‘Nu Deitado’. Magnífica pintura, uma luz inconfundível e 170,4 milhões de dólares pagos a pronto – o segundo mais caro da história, assim o celebraram no leilão nova-iorquino em que se deixou vender.

Não entendo o mercado da pintura. Nenhuma arte nos ofereceu tantos artistas que enlouqueceram, decidiram desistir ou provocaram a ordem estabelecida. Mas também nenhuma arte lucrou tanto com a especulação e o dinheiro. Muito dinheiro. Dinheiro fora da realidade. Uma outra espécie de loucura. Pobres pintores… de tão ricos. Não é, Paula Rego?

luis.osorio@sol.pt