Canábis danifica comunicação cerebral

Um estudo coordenado pelo psiquiatra português Tiago Reis Marques, do King’s College, de Londres, revela que o consumo de um tipo mais potente de canábis (o skunk) pode causar danos consideráveis na área cerebral responsável pela comunicação dos dois hemisférios.

Depois de, nos últimos anos, outras investigações científicas terem estabelecido a relação entre o consumo desta droga e a psicose, o estudo de Marques vem acentuar que, afinal, a canábis, quando potente, não é tão inofensiva quanto se pensava. Publicado na revista Psychological Medicine, o estudo é pertinente na medida em que, nos últimos dez anos, tem-se assistido a um aumento da concentração do THC (tetra-hidrocanabinol), a principal substância psicoativa da planta.

A experiência consistiu em observar e analisar, através de uma técnica específica de ressonância magnética, as alterações no cérebro de 56 pacientes com um primeiro surto psicótico devido ao consumo, e o de 43 participantes saudáveis. A região que foi alvo particular destas observações, o corpo caloso, desempenha o papel responsável pela comunicação entre os dois hemisférios do cérebro. Verificou-se que o corpo caloso é particularmente vulnerável à ação da canábis por ser rico em recetores canabinoides.

Quem usava frequentemente canábis de alta potência apresentava alterações consideráveis nesta estrutura do cérebro, ao contrário das pessoas analisadas que não consumiam a droga. Segundo o coordenador do estudo, citado em comunicado, o estudo é particularmente importante numa época em que a canábis que entra no mercado é mais forte do que a ‘tradicional’: “Nos últimos anos temos vindo a alertar para o facto de se verificar um aumento significativo na potência da canábis, com variedades muito fortes acessíveis a qualquer consumidor. Assim, quer o tipo de canábis consumida, quer a sua potencia e frequência devem ser cuidadosamente avaliados, o que pode ajudar a quantificar o risco para uma doença mental”.