Devo prevenir que os critérios do Michelin para a Europa não me seduzem (embora admita que no Japão, aceitando eles a excelência da comida tradicional diferente da europeia, possam estar a ressarcir-se). Até recordo sempre com um riso divertido um grande gourmet português, que chamava ao Michelin o Miquelino, com a intenção precisa de o ridicularizar.
Penso até que os chefes que trabalham ainda com o fito das estrelas Michelin não devem ser grandes coisas – embora, para não ir mais longe, e aqui mesmo em Lisboa, a comida do José Avillez não deixe nunca de me deslumbrar (e não falo da de efeitos tecnológicos, pour épater le bourgeois, que essa nunca me deslumbraquase nada).
Mas enfim, a retirada da estrela de Miguel Laffan, o chefe de cozinha do L’And Vineyards, já estava cantado que ia à vida, pelos próprios critérios do Miquelino (queretiram as distinções a cozinheiros metidos em projetos muito populares e baratos, como aqueles em que Laffan se meteu, depois de ganhar a estrela, pondo-a logo a render).
De qualquer maneira, para Rui Silvestre, do Bon Bon, o galardão vem mesmo a calhar – ainda por cima numa zona de turismo de inverno muito estrangeiro, e com Michelin na mão.
De resto, estabilidade nacional. O Guia Michelin Espanha e Portugal 2016, apresentado em Santiago de Compostela, no Parador dos Reis Católicos, distingue 14 restaurantes portugueses, tantos quantos na edição passada: continuam, com 1 estrela, Pedro Lemos (Porto, P.Lemos), São Gabriel (Almancil, Leonel Pereira), Willie's (Vilamoura, WillieWurger), Henrique Leis (Almancil, H. Leis), Il Gallo d'Oro (Funchal, BenoitSinthon), Casa da Calçada (Amarante, André Silva), Fortaleza do Guincho (Cascais, Miguel Rocha Vieira), The Yeatman (Vila Nova de Gaia, Ricardo Costa), Feitoria (Lisboa, João Rodrigues) e Eleven (Lisboa, Joachim Koerper); e com 2, Belcanto (Lisboa, José Avillez), Vila Joya (Albufeira, Dieter Koschina) e Ocean (Porches, Hans Neuner). A Fortaleza do Guincho, em Cascais, e a Casa da Calçada, em Amarante, até mudaram de chefe de cozinha este ano, semsofrerem represálias miquelinas.
Na Península Ibérica, são distinguidos um total de 188 restaurantes, dos quais 23 com duas estrelas (duas novidades nesta categoria, ambas em Espanha) e oito com três estrelas ('cozinha de nível excecional, que justifica a viagem’, e obviamente caríssimos – mas onde é que há galinha gorda por pouco dinheiro? –, e todos em Espanha).