Um ano de Património Mundial comemorado no Alentejo e em Lisboa

O primeiro aniversário da distinção do cante alentejano como Património da Humanidade, atribuída faz hoje um ano e que o tornou uma mais-valia para o Alentejo, vai ser comemorado até domingo na região e em Lisboa.

O cante alentejano, canto coletivo sem recurso a instrumentos, foi classificado a 27 de novembro de 2014 como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, graças a uma candidatura apresentada pela Câmara de Serpa e pela Entidade Regional de Turismo.

Segundo os promotores da candidatura, a classificação trouxe um reconhecimento do cante à escala mundial e aumentou a responsabilidade na salvaguarda do bem.

A distinção também "abriu uma nova perspetiva do cante como fator económico", já que o bem se transformou "num produto turístico e numa mais-valia, que contribui para o reconhecimento e o desenvolvimento do Alentejo do ponto de vista do turismo", explicou à agência Lusa o coordenador da candidatura, Paulo Lima.

Para Ceia da Silva, presidente da Turismo do Alentejo, o cante, como forma cultural e de identidade do povo alentejano, tornou-se "uma mais-valia" turística, porque "a questão da identidade é decisiva na afirmação do destino turístico Alentejo" e a classificação trouxe para a região "um peso muito forte a nível identitário".

O "selo" da UNESCO, segundo Paulo Lima, também "aumentou, de forma exponencial", a autoestima por uma região, uma cultura e uma identidade por parte dos alentejanos, que olham para o cante "com uma dignidade enorme, o que é visível na adesão dos jovens à prática musical" e na criação de novos grupos corais.

Na opinião de Pedro Mestre, ensaiador de vários grupos corais alentejanos, os novos grupos criados por jovens estão a dar, "com garra e muito respeito", uma "outra abordagem e inovação" ao cancioneiro tradicional alentejano, o que "é muito importante" para salvaguardar o cante.

Segundo José Roque, da MODA – Associação do Cante Alentejano, "há alguns anos, havia um discurso negativo" sobre o futuro do cante devido à "preocupação com o envelhecimento dos grupos corais".

Mas, sublinhou, com a "erupção" da candidatura, que "mexeu com o Alentejo", os jovens, que "são cada vez mais a essência do cante", "perceberam que era hora de se movimentarem" e criaram grupos, que são "uma aposta na continuidade e no plano de salvaguarda" do cante alentejano.

A Câmara de Serpa e a Turismo do Alentejo estão a gerir a implementação do plano de salvaguarda do cante, que integrou a candidatura e inclui orientações para desenvolvimento de projetos por entidades para salvaguardar, valorizar, promover e transmitir às novas gerações o cante alentejano.

Para comemorar o primeiro aniversário da classificação, a Câmara de Serpa, as casas do Cante e do Alentejo e a Turismo do Alentejo promovem "a grande festa do Cante – Património Cultural Imaterial da Humanidade", que inclui iniciativas em Serpa, no distrito de Beja, hoje e no sábado, e em Lisboa, no domingo.

A apresentação do Roteiro Digital do Cante, de uma moeda comemorativa e do número zero da recuperada revista etnográfica A Tradição, dedicado ao cante e com fotos, textos e o dossiê da candidatura, espetáculos, exposições e conferências são ofertas do Cante Fest'2015.

O aniversário também é assinalado noutros concelhos alentejanos, como Beja, onde hoje há atuações de grupos corais em escolas e espaços comerciais do centro histórico, exposições em vários restaurantes e a instalação artística de fotografia "Retratos do Cante", na Praça da República.

Também hoje, em Ourique, é inaugurada a rotunda da Viola Campaniça e do Cante Alentejano, com atuações de vários grupos, e um espetáculo no cineteatro, e, em Mértola, no âmbito da Feira do Livro, o Grupo Coral Guadiana promove um ensaio aberto à população.

Em Castro Verde, a câmara lança a coletânea "Planície a Cantar", com temas de grupos corais do concelho, os quais vão desfilar por ruas da vila no domingo.

No domingo, o evento "ruma" a Lisboa, com atuações, a exposição "Cante. Paris. 2014", a apresentação da revista A Tradição — nova série e uma conferência sobre polifonia, na Casa do Alentejo, estando o encerramento agendado para a Igreja de S. Domingos, com um espetáculo que combina cante e fado.

Lusa/SOL