Vitória entre Jesus e o passado

Simões e Diamantino defendem a continuidade de Rui Vitória mesmo que o Benfica não ganhe títulos esta época. Ao fim de cinco meses, o novo técnico tem pior saldo do que o antecessor, mas supera os anteriores.

Dez vitórias, um empate, seis derrotas. É esta a folha de resultados de Rui Vitória ao fim de cinco meses à frente do Benfica. Pior registo do que o verificado em cinco das seis épocas com Jorge Jesus ao leme dos encarnados, mas acima do que fizeram Fernando Santos, José Antonio Camacho e Quique Flores nas três anteriores.

Numa análise às últimas dez temporadas, os primeiros 17 jogos de Rui Vitória como técnico das águias revelam um desempenho entre o que se viu na era Jesus e o que se passava antes. Nem tão positivo como em tempos recentes, nem tão negativo como em anos anteriores.

Contra e a favor do treinador contratado ao Vitória de Guimarães saltam à vista dois factos consumados esta semana: a terceira derrota da época perante o Sporting – o que não acontecia há mais de 60 anos – e o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões – que Jesus conseguiu apenas uma vez e que o clube da Luz só havia alcançado noutras duas ocasiões no formato com fase de grupos.

Para António Simões, o triplo desaire frente ao rival de Alvalade «tem mais peso porque o treinador do Sporting é o que estava no Benfica», o que acentuou a «carga emocional» associada ao desfecho dos dérbis. O efeito Jorge Jesus é decisivo para a antiga glória do Benfica considerar que o saldo dos resultados de Rui Vitória «não é positivo», apesar dos méritos que lhe reconhece ao fim de cinco meses de trabalho na Luz.

‘Aposta ganha’ nos jovens

Além do apuramento para os oitavos de final da Champions, Simões salienta «a rentabilização da miudagem do Seixal» como uma «aposta que já está ganha» pelo novo treinador. E dá como exemplo o médio de 18 anos Renato Sanches – titular em Astana, a meio da semana, para a Liga dos Campeões –, «indiscutivelmente um jogador para contar», na linha de Nélson Semedo e Gonçalo Guedes.

Este novo paradigma, de maior recurso aos jovens da casa e menor investimento em contratações, ajuda a explicar «não só as derrotas com o Sporting como algumas exibições menos conseguidas», segundo Diamantino Miranda.

«O plantel do Rui Vitória não tem rigorosamente nada a ver com os super plantéis que o clube teve antes», sustenta o ex-jogador dos encarnados, convicto de que essa premissa servirá de escudo ao treinador: «Há uma nova estratégia e é preciso dar-lhe tempo. Mesmo que não ganhe nada esta época, acho que deve ficar se os jovens continuarem a evoluir». 

António Simões não podia estar mais de acordo. A avaliação sobre o desempenho de Rui Vitória, defende, não pode resumir-se aos resultados. E justifica: «Se houve uma aposta do clube e essa aposta está ganha, não faz sentido mandar embora o treinador. O_que conta é a competência».

O bónus da Champions

Se mandarem os resultados, Rui Vitória apresenta nesta fase da época um saldo intermitente. Perdida a Supertaça e com o adeus precoce na Taça de Portugal, resta a nível interno a luta pelo Campeonato e a Taça da Liga, a que se junta o desafio europeu na Liga dos Campeões.

Na comparação com as nove temporadas anteriores ao fim de 17 jogos, há dados que valorizam o desempenho do novo treinador e outros que o desmerecem. Se esta versão 2015/16 do Benfica é a quarta com mais golos marcados – um total de 34, apenas inferior a três épocas de Jesus –, também é a segunda com mais derrotas acumuladas – 6, contra as 7 na segunda campanha com Jesus.

Os dez triunfos alcançados sob o comando de Rui Vitória, por outro lado, igualam o pior registo do seu antecessor (2010/11), mas superam os de Fernando Santos, Camacho e Quique Flores. E têm o bónus milionário da qualificação para a próxima fase da Champions.

Se todos os resultados, incluindo os da Supertaça e de eliminatórias da Taça de Portugal e Taça da Liga, fossem traduzidos em pontos, Vitória contabilizaria 31, mais um do que os três treinadores que antecederam Jorge Jesus e do que este no seu pior arranque em seis épocas – nos restantes oscilou entre os 41 e os 36 pontos. 

«As coisas não estão tão mal como se quer fazer crer. Tem sido um trabalho positivo em circunstâncias muito difíceis. Este é um ano de transição e Rui Vitória já deu mais de 20 milhões de euros ao clube na Liga dos Campeões», remata Diamantino.

rui.antunes@sol.pt