Uma longa lista de medidas foi anunciada ao longo da semana: da proibição decretada aos clubes de futebol russos em contratar jogadores turcos ou a negociar transferências com clubes desse país à ameaça da suspensão de projetos energéticos entre os dois países, incluindo um gasoduto e uma central nuclear que está a ser construída em Akkuyu com financiamento russo.
Gorada a promessa de «diversificar e aumentar os investimentos feitos por ambos os países», como prometia Putin em setembro, Moscovo ataca agora os setores de cooperação já consolidados. Exemplo disso é o turismo, com a indicação dada às agências de viagens para boicotarem um destino que levava cerca de 4 milhões de russos a passar férias na Turquia por ano. Uma ameaça grave para uma indústria que emprega 2,1 milhões de pessoas na Turquia e representou receitas de 96 mil milhões de dólares em 2014.
O momento de tensão vive-se também nas acusações dirigidas por Moscovo a Ancara. Na quarta-feira, o vice-ministro russo da Defesa, Anatoly Antonov, apresentou aquilo que diz serem «provas de como o comércio ilegal de petróleo é feito para financiar grupos terroristas». Apoiado por fotografias e vídeo, Antonov mostrou três rotas de petróleo com origem no Iraque e na Síria que chegam à Turquia, estimando o volume de negócios em mais de três mil milhões de dólares diários.
‘Maravilha de negócio’
O alvo da acusação não foi só a Turquia: «A liderança política do país – o Presidente Erdogan e a sua família – está diretamente envolvida neste negócio criminoso», disse Antonov. Apesar de ser ignorado pelo Ocidente, como sublinhou o russo, «é um facto que um dos filhos do Presidente turco é dono de uma das maiores companhias energéticas do país e que o genro foi nomeado ministro da Energia. Que maravilha de negócio familiar».
Nada que Erdogan esteja disposto a admitir. «A Turquia não perdeu os seus valores morais para comprar petróleo a terroristas», garante prometendo demitir-se caso as acusações venham a ser provadas. Do lado russo, Antonov desafia Ancara a «deixar os jornalistas» inspecionarem as rotas referidas.
Trocas de acusações acompanhadas por apelos sucessivos de Barack Obama a uma «redução da tensão» entre os dois países.
E, para acentuar divisões, a NATO fez na quarta-feira o convite formal à adesão de Montenegro à Aliança Atlântica, provocando nova reação russa.
Intransigentes, os russos dizem que «Montenegro torna-se um país participante numa potencial ameaça à segurança nacional do seu país», pois consideram a adesão uma prova de que a NATO «tem como objetivo primário opor-se à Rússia», como afirmou o líder do comité da Duma para as Relações Externas, Alexey Pushkov.
Relegada para segundo plano ficou a tentativa de François Hollande juntar as grandes potências em torno do combate ao EI na Síria. Obama diz que ninguém «deve ter ilusões» sobre um possível ataque da Rússia ao grupo, lembrando que o objetivo de Moscovo na Síria começa e acaba na missão de defender o regime de Bashar al-Assad.
O Reino Unido, por sua vez, juntou-se à Alemanha na decisão de se envolver no conflito militar sírio, reforçando a coligação de EUA e França nos bombardeamentos às posições do EI.