As comunidades mais expressivas entre as igrejas protestantes são as Assembleias de Deus, explica ao SOL Jorge Humberto, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa (AEP), federação que representa a maioria das igrejas evangélicas. Mas neste universo estão ainda batistas, nazarenos, maranatas, da Igreja fraternal, dos Irmãos, entre outras. São independentes, têm total autonomia e não integram hierarquias como acontece na Igreja Católica, onde todos obedecem ao Papa.
Algumas igrejas evangélicas estão em Portugal há mais de 100 anos mas foi no pós-25 de Abril que mais se expandiram. «Um crescimento que veio até aos dias de hoje», acrescenta Jorge Humberto, sublinhando que a subida de crentes se fez sobretudo à conta dos imigrantes, mas também da conversão de católicos.
Para serem reconhecidas na Aliança, explica o pastor, «têm de mostrar os seus estatutos de igreja, ser recomendadas por duas igrejas que já sejam membros e fazer uma declaração de fé». Ou seja, subscrever alguns princípios comuns – como a crença em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, na inspiração divina da Bíblia, na mortalidade da alma e na salvação dos crentes através da fé.
A forma como estas igrejas se governam – quem tem o poder e como administra o dinheiro – e o papel do pastor dentro da comunidade e junto dos fiéis também pesam nesta adesão e explicam, por exemplo, por que é que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) ou a Igreja Maná não são consideradas evangélicas, ao contrário do que acontece no Brasil. Jorge Humberto não se alonga nestas explicações e diz apenas que «estas igrejas tentaram aderir à AEP e não foram admitidas».
Muitas não estão registadas
A autonomia e independência destas igrejas faz com que muitas não sintam sequer necessidade de se radicar em Portugal, estatuto que lhes permite, entre outras coisas, celebrar casamentos com efeitos civis. O presidente da Aliança Evangélica diz que, por isso, muitas não constam da lista de 70 comunidades atualmente radicadas em território nacional (e na qual se inclui a Comunidade Islâmica, Judaica, etc.). Nem sequer se constituíram como pessoa coletiva religiosa, como prevê a lei da liberdade religiosa.
Segundo dados enviados ao SOL pelo Registo de Pessoas Coletivas Religiosas, gerido pelo Ministério da Justiça, existem 759 comunidades constituídas em Portugal. Um número que registou o seu boom em 2006, com o registo de 196 entidades religiosas, na sequência da nova lei da liberdade religiosa aprovada em 2001. No ano passado, entraram 16 e em 2013 apenas 10.
Ensino e setor socialsão áreas em expansão
A área de influência destas igrejas chega às 500 mil pessoas, estima a Aliança Evangélica, pois há muitas que não pertencem a nenhuma igreja mas usufruem da sua obra social ou serviços – como, por exemplo, das aulas de moral evangélica, que este ano letivo chegam a 300 turmas e a mais de 1.500 alunos. «Todos os anos tem vindo a subir a procura e há alunos que não são membros de nenhuma igreja. Vêm pela temática dos valores e do sentido da vida», explica Isabel Pinheiro, responsável por esta área do ensino. Tal como os professores católicos, estes são pagos pelo Estado, mas cabe à Aliança Evangélica colocá-los, o que nem sempre é fácil porque são sempre poucas turmas por escola e poucas horas de serviço para cada professor: «A maioria são pessoas que conciliam estas poucas horas semanais de aulas com a sua vida profissional ou que dão outras disciplinas. Ou então professores desempregados».
Isabel Pinheiro refere ainda que há escolas com alguma «má vontade», pois têm alunos inscritos mas não comunicam à Aliança que não pode, por isso, colocar o professor na escola, deixando os alunos sem aulas de moral.
Regras por criar nas prisões, hospitais e Forças Armadas
Nas prisões e nos hospitais, também há cada vez mais cristãos evangélicos a prestar assistência religiosa aos crentes da sua confissão, embora a lei ainda não tenha sido regulamentada no sentido de criar regras específicas para este serviço, até agora exclusivo da Igreja Católica.
«Há uma equipa de 26 pessoas em sete estabelecimentos prisionais. Não se trata concretamente de assistência religiosa, mas ajudamos no desenvolvimento de competências sociais e pessoais, através de grupos de autoajuda ou na preparação de projetos de vida», explicou ao SOL o pastor Álvaro Ladeira.
Nas forças de segurança, o número de evangélicos também está a crescer, estimando-se que sejam 500 a 600 (entre militares, polícias e civis a trabalhar nas Forças Armadas e Polícias). Apesar de não haver uma estrutura organizada em todos os quartéis e unidades, «onde há crentes que manifestem vontade de ter assistência espiritual, pede-se autorização aos comandantes para dar esse apoio», explicou ao SOL o coronel Fernando Freire, presidente dos Militares Evangélicos de Portugal.
Também neste setor, a regulamentação da lei está por fazer, embora os evangélicos já tenham feito propostas concretas ao Governo que ainda não foram acolhidas. Uma delas passa pela nomeação de dois capelães: um nas polícias e outro nas Forças Armadas.