40% para roupa, 20% para pizzas, 20% para bagels e outro tanto para cafés. Era esta a distribuição do orçamento da ilustradora Sarah Lazarovic quando chegou à universidade e àquela fase da sua vida que apelida de ‘um acordar para o consumismo’. Desde então a sua existência, tal como a de muitas mulheres (e sim, ela refere-se sobretudo ao género feminino – o ano passado a empresa de contabilidade RSM publicou um estudo sobre a dívida dos britânicos e concluiu que as mulheres entre os 18 e os 25 anos superam, em muito, o nível de endividamento dos homens), tem sido pontuada por compras e mais compras que passada a fase da euforia da aquisição ficam irremediavelmente no fundo do roupeiro. Até que em 2006, decidiu passar um ano sem comprar uma única peça de roupa. E conseguiu. Em 2012, decidiu regressar à sua ‘shopping diet’ com um pequeno twist criativo. “Tive uma bolsa para estudar na Universidade de Toronto que me permitiu estudar economia comportamental e sustentabilidade. Sempre me interessei pelas mudanças comportamentais e como podemos ajudar as pessoas a fazer escolhas mais sustentáveis”, contou à Tabu a ilustradora.
O que se seguiu foi um ano a investigar como podia aplicar estes conceitos ao design. A opção ganhou forma de livro, quando percebeu que estava a comprar compulsivamente. “Nem percebia que estava a comprar tantas coisas tal não era a minha obsessão. Simplesmente via uma imagem num blogue ou num site e um clique depois estava no meu carrinho de compras. Quando finalmente percebi o que estava a acontecer, fiquei assustada com o meu comportamento”. A rapidez com que se vê um objeto, se passa a desejá-lo, se compra e em poucas horas aparece na nossa casa está, segundo Sarah, na origem desta automatização do processo de compra. Depois há a parte emocional que, para a investigadora, tem também o pavio curto. “Existe aquele momento de excitação inicial, depois segue-se o arrependimento da compra e passado algum tempo nem isso. Já estamos a pensar na próxima compra”. E para ajudar à festa ainda há as redes sociais que disparam constantemente balas de desejo. E então como se ultrapassa esse impulso? “Parem imediatamente! Eu sei que parece ridículo mas é isso que as pessoas têm que fazer! Parem, deem um passo atrás, podem até tirar uma fotografia ao que gostam ou descrevê-lo num caderninho. Pensem nisso durante dois ou três dias e quase sempre, essa compulsão inicial da compra passa. Na verdade é a resposta emocional que é o mais difícil de ultrapassar”.
E apesar dos conselhos sábios, de quem investigou o assunto, a verdade é que no livro A Bunch of Pretty Things I Did Not Buy, Sarah tem uma boa dose de ironia para ver a sua própria realidade. Ao longo deste ensaio gráfico ainda descreve a sua hierarquia da compra (à semelhança da Hierarquia das Necessidades de Maslow) que começa com ‘usa o que tens’ e termina em ‘compra’ e pelo meio tem coisas como ‘pede emprestado’, ‘troca’ ou ‘faz tu’. Ou a pequena área das coisas que usa, comparando com as que compra, com as que precisa e com as que quer. Ou o desenho pormenorizado daquele vestido “espetacular que era mesmo o que eu precisava. Mas espera! Tenho uma dúzia iguais no meu roupeiro”.
Além ‘do pare, escute e olhe’ a que agora impõe as suas compras – a última foi um impermeável para poder ir acampar nas próximas férias – Sarah também tem mais umas cartas na manga. “A primeira coisa é não nos deixarmos tentar. As lojas são muito boas a mostrar uma série de soluções boas, baratas e giras que ficam bem a quase todas as pessoas. Se eu for à H&M vou ver coisas que gosto. Por isso, deixo de passar por lá… O mesmo se passa com a COS. Nós não somos más pessoas, a questão é que há pessoas muito inteligentes que dedicam a sua vida a fazer com que nós não paremos de comprar”. A elas Sarah agradece mas parece dizer: ‘não és tu, são eu. Foi bom enquanto durou mas chegou ao fim a nossa relação’.