Marisa e Edgar: é melhor desistir ou não desistir?

As eleições presidenciais colocam um dilema que divide a esquerda e baralha as contas das suas candidaturas.

A questão é a seguinte. Será melhor a esquerda concentrar, desde já, os seus votos em apenas um ou dois candidatos (Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém) para criar uma dinâmica confluente e mais mobilizadora que reduza rapidamente a grande e desincentivadora desvantagem, que se repete nas sondagens, em relação a Marcelo Rebelo de Sousa?

Ou é melhor que as candidaturas de Marisa Matias e Edgar Silva não desistam a favor de Nóvoa, pois a sua ausência iria potenciar a abstenção de algum eleitorado do BE e do PCP, assim diminuindo a afluência de votantes à esquerda e potenciando a vitória de Marcelo logo na 1.ª volta?

A resposta não é fácil. E até o maior interessado, Sampaio da Nóvoa, se mostra confuso com a questão: «Não vejo com maus olhos a existência de vários candidatos no espaço político da esquerda», foi há dias dizer a uma sessão de campanha no Barreiro. Para logo acrescentar a seguir: «Mas espero também que percebam a necessidade de uma convergência, porque o pior que nos podia acontecer é as pessoas votarem no candidato da continuidade». Vê-se que Nóvoa receia uma vitória logo à 1.ª volta do candidato do centro-direita – e não se inibe de sugerir já uma convergência de votos, para garantir as suas hipóteses de chegar à 2.ª volta.

Mas será essa a melhor forma de a esquerda somar o máximo de votos possível à 1.ª volta e assim impedir uma vitória fácil de Marcelo? Vejamos os exemplos mais recentes. A multiplicação de candidatos de esquerda em 2006 – Manuel Alegre (20,7%), Mário Soares (14,3%), Jerónimo de Sousa (8,6%), Francisco Louçã (5,3%) e Garcia Pereira (0,4%) – não evitou a vitória de Cavaco Silva (50,5%) logo à 1.ª volta. E, em 2011, também a profusão de candidaturas – Alegre, Fernando Nobre, Francisco Lopes, José Manuel Coelho e Defensor Moura – não foi suficiente para travar a reeleição de Cavaco (52,9%).

Estes exemplos serão um bom argumento sobre a inutilidade de múltiplas candidaturas na mesma área. Mas também se pode contra-argumentar que, sem tantos candidatos, a abstenção à esquerda subiria e a vantagem de Cavaco seria ainda maior. Que fazer?

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