Outra vez a comemorar o 25 de Novembro

Não quero lembrar o meu papel (que foi certamente menoríssimo) nos acontecimentos da democratização. Claro que era contra o anterior Regime, e estive ainda em manifestações contra ele. E claro que fui entusiasticamente a favor do 25 de Abril. Como acabei um ativista pela democracia, até ao 25 de Novembro, com o qual rejubilei, e…

Não me atrevo a falar por quem fez o 25 de Novembro (desde os militares encabeçados por Ramalho Eanes, que incluíam o Grupo dos Nove e Jaime Neves, até aos políticos em que se destacaram figuras como Mário Soares, Salgado Zenha, Manuel Alegre, Sá Carneiro, Balsemão, Rebelo de Sousa, Freitas do Amaral, Amaro daCosta, Lucas Pires, Basílio Horta e muitos outros). Mas quando vejo alguns quererem apropriar-se do 25 de Novembro para defenderem o oposto do que significou essa data e esse movimento militar democrático, fico banzado. Não é possível aceitarmos que uns militantes políticos favoráveis ao Governo do PSD-CDS se apropriem do 25 de Novembro. Foi seguramente um golpe contra as golpadas do PCP de então. Mas defendeu o que se chamava na altura a ‘democracia orgânica’ (alguns chamavam-lhe ‘democracia burguesa’, mas significava precisamente ‘democracia parlamentar’), contra as vanguardas e outras formas de antiparlamentarismo. Foi a defesa mais evidente de situações como a atual maioria parlamentar, que no caso específico deu um Governo de esquerda, contra os que queriam outras formas de soberania (quer o vanguardismo comunista, quer o da atual coligação de Direita).

Portanto, está muito certo comemorar o 25 de Novembro (e ainda bem que houve para isso a comissão de António Barreto), mas sem esquecer o que ele foi, e sem o querer transformar numa crítica ao parlamentarismo que levou a maioria de esquerda ao Executivo (o resultado mais óbvio do 25 de Novembro), e menos ainda no próprio Parlamento. Ao contrário do que outros afirmam, provavelmente até com as melhores intenções, no momento de crispação por que passámos este ano, talvez tenha sido bom não levar interpretações muito subjetivas sobre a matéria aoParlamento. Parece que não é demais insistir neste ponto, porque havia quem o quisesse celebrar com um significado contrário.