Para este recuo, que para já acalmou muitas consciências europeias, contribuíram diversos factores: o pânico manifestado em toda a grande imprensa francesa (e internacional) pela vitória da FN em alguma região, a desistência do PS a favor da direita nos locais em que ficara abaixo do 2º lugar, e uma acentuada viragem à direita do discurso político dos partidos centrais (sobretudo os republicanos de Sarkozy, mas um pouco também a ação presidencial do socialista Hollande).
Uma certa clarividência (na minha escassa opinião) faz no entanto com que ninguém tenha ficado descansadamente satisfeito com este recuo da FN. De facto, em termosmais gerais, a FN já se aproxima da presidência francesa, e de voltar a discutir um 2º lugar nas presidenciais. Na realidade, já vai em 30% dos votos a nível nacional.
Afinal, foram cerca de 30% dos alemães que deram o poder do seu país a Hitler. E os EUA têm à volta da presidência, mesmo ancoradas no Partido Republicano, figuras tão bizarras como os Le Pen – desde George W. Bush a Trump, passando por Sarah Pallin.
Podemos na realidade dizer que o terrorismo islâmico, ao fazer parte destacada do eleitorado de um grande país do Centro da Europa votar de forma tão extremista, conseguiu arranjar um extremismo para fazer frente ao seu, num patamar maissemelhante.
Já Chirac, em 1991, então ainda "Maire" de Paris, fez um discurso tão racista como é a FN. E Mitterrand, mais tarde, andou com ela ao colo, credibilizando-a muito, e escancarando-lhe as portas institucionais do país (incluindo da imprensa) para assim fazer uma perigosa frente à direita republicana. Agora, muitos pensam que Hollande alinhou numa deriva securitária excessiva, para evitar fugas de eleitorado. E Sarkozy, sempre oportunista (e lá conseguiu vencer estas regionais com cerca de 40%), não só recusou apoiar o PS onde não estava em 2º lugar, como atirou bem para a direita o seu discurso político.
Já não é só a FN a falar como a extrema-direita francesa, racista, xenófoba, demagógica, populista, anti-globalização, anti-união europeia, etc. Os outros partidos vão-lhe por aí no encalço, com a ideia de que só assim poderão satisfazer os seus eleitorados.
O problema está mesmo portanto nesses eleitorados, e na mentalidade que se tornou por aqui dominante. A única maneira que ocorre aos partidos do sistema (e talvez comrazão, o que é mais assustador) para combater a FN, é adoptar algumas das suas posições mais polémicas. E, como se viu com a votação de Sarkozi, demasiadas vezes o crime compensa (pelo menos na política).
Não fiquei nada mais descansado por a FN não ter vencido em nenhuma das 13 regiões francesas. Estou consciente de que uma certa deriva política se instalou entre nós.