A tempestade perfeita de Adriano

Campeão mundial de surf na crista de uma onda gigante vinda do Brasil: dois títulos seguidos de brasileiros, depois de Medina. Em 2016, serão 10 de 34 surfistas na prova principal.

Trinta reais bastaram para revolucionar a vida de Adriano de Souza e o surf mundial. Qualquer coisa como 8 euros, foi o que o irmão mais velho Ângelo gastou na primeira prancha de surf que ofereceu a Adriano quando este era ainda um miúdo. Na quinta-feira, quando o surfista brasileiro mais veterano no circuito (9 épocas) venceu o Pipeline e alcançou o título mundial pela primeira vez na carreira – e a segunda de um brasileiro, sucedendo a Gabriel Medina que há um ano venceu a WSL – lembrou esse gesto do mano, de quem também ganhou a alcunha de Mineirinho (ao irmão chamavam-lhe Mineiro pelo carácter fechado e circunspecto): “Quero lembrar do meu irmão, isso tudo se deve a ele, que me deu a minha primeira prancha. Sem esse presente, nada disso teria acontecido. Ele foi muito importante nessa caminhada. Muito obrigado, meu irmão, eu te amo”.

Adriano, 28 anos, está na crista de uma onda brasileira que parece imparável. Chamam-lhe “Brazilian Storm” e é uma tempestade perfeita. Além do troféu, o Brasil conseguiu firmar de vez os seus surfistas numa modalidade marcada pelo oligopólio dos EUA, Hawai e Austrália. Depois do título de Medina, Souza. Não é uma tempestade passageira.
Três brasileiros chegaram à última etapa do circuito com olho no título: Toledo, Souza e Medina. Na época, Ítalo Ferreira destacou-se e houve ainda tempo para Wiggolly Dantas, Miguel Pupo e Jadson André. Em 2016, serão mais três (Alejo Muniz, Caio Ibelli e Alex Ribeiro), num total de 10 brasileiros na principal divisão do surf, em 34 participantes.
E o que fez esta tempestade? Arrasou tudo. 
Mick Fanning foi a última vítima, numa semana (mais uma) dramática na vida do australiano.

A desgraça de Fanning

Depois do ataque do tubarão na África do Sul no Verão (ao qual sobreviveu com um pontapé no nariz do animal), perdeu na última prova a hipótese de conquistar o quarto título mundial, derrotado nas meias-finais por Gabriel Medina – um dia depois de saber da morte do irmão mais velho Peter, em Queensland (que terá morrido enquanto dormia). 
Para a tempestade brasileira ser perfeita, Souza bateu Mason Ho na outra meia-final e saiu da água campeão, mesmo antes da final com Medina.

Estava feita a festa. Gabriel levou a Triple Crown (uma mistura dos pontos nas três competições no arquipélago) e Adriano  ficou com o título mundial e com o troféu do tradicional Pipe Masters.  
Há um ano, Mineirinho abandonara o Pipeline com o nariz partido. Agora surfa a maior onda de sempre. A onda brasileira.