Não é fácil identificar o momento preciso em que as dificuldades do Banif atingiram o ponto de não retorno, mas o início da crise do imobiliário, ainda na década passada, foi um contributo decisivo. Num banco com grande exposição as pequenas e médias empresas na área da construção, a queda do mercado ditou anos de agonia.
Fundado pelo madeirense Horácio Roque, o Banif tem grande implantação no Funchal. Durante décadas cresceu à boleia do boom da construção – financiou obras do Governo Regional da Madeira – e expandiu para muitas outras geografias.
Quando a torneira fechou, tudo se deteriorou. As empresas de construção que o Banif financiava entraram em dificuldades crescentes e as dívidas por pagar ao banco começaram a aumentar.
As inspeções do Banco de Portugal, antes das ajudas públicas de 2013, mostravam que o Banif era um dos bancos mais expostos à construção e imobiliário, seguido pelo BCP. Havia também um elevado concentração de crédito a pequenas e médias empresas, onde o malparado chegou a ser cinco vezes superior ao das grandes empresas, durante a crise.
Embora de pequena dimensão no sistema financeiro português, a rede de participações do grupo tinha alguma complexidade e as operações de financiamento cruzadas dentro do grupo tornavam toda a estrutura de topo permeável a desequilíbrios financeiros em empresas específicas do grupo.
No auge da crise e do programa da troika, em evidentes dificuldades com o incumprimento, o banco solicitou auxílios públicos. Havia uma linha da troika para ajudar os bancos e, tal como na CGD, no BPI e no BCP, o banco madeirense foi apoiado. Foi aprovado um plano de recapitalização que totalizava 1,1 mil milhões de euros, e em contrapartida o banco teria de concretizar um plano de reestruturação.
Teria de vender empresas não essenciais e negócios em mercados pouco lucrativos, à medida que os reembolsos das ajudas ia sendo feito.
Tudo estava a até correr bem – foram captados investidores privados em aumentos de capital, os pagamentos estavam a ser feitos e as empresas vendidas –, mas um episódio revelou-se crítico:o colapso do BES, que inverteu a trajetória de recuperação.
O banco madeirense tinha 120 milhões de euros aplicados numa operação cruzada com o banco de Salgado e a medida de resolução do banco, em meados de 2014, gerou perdas desse montante.
Com outras imparidades entretanto registadas, os desvios face ao plano inicial tornaram-se evidentes. Em dezembro de 2014, banco não conseguiu pagar o Estado o dinheiro que devia. Coincidência ou não, o que o Banif deixou de pagar ao Estado naquela altura está próximo do que o banco perdeu com a queda do BES: 125 milhões de euros que os cofres públicos ainda não recuperaram.
O Governo de Passos Coelho ponderou por diversas vezes alienar o banco – falou-se na possibilidade de investimento da Guiné Equatorial – mas nada passou do interesse. Quando os potenciais compradores viam as contas da instituição, a marcha atrás era quase imediata.
Começa então a ganhar forma a tentativa de isolar os ativos imobiliários do grupo, num veículo financeiro como os que foram criados com o BPN, para que as contas do banco pudessem ser expurgadas destes ativos problemáticos, que pesam nos rácios de capital impostos pelo BCE.
A corrida contra o tempo acentuou-se esta semana, depois de especulações sobre a reestruturação do banco. Com a derradeira tentativa de venda em curso, o estado frágil da instituição deve ditar preços de ‘saldo’.
João Madeira